Disputa de direitos sobre fado que venceu Goya
Vítor Marceneiro diz que a música tem créditos do avô
Vítor Duarte Marceneiro, investigador e neto de Alfredo Marceneiro, reivindicou ontem para o seu avô a autoria e cobrança dos direitos de autor do Fado da Saudade - interpretado por Carlos do Carmo e com letra de Fernando Pinto do Amaral no filme Fados, de Carlos Saura. Segunda produção mais vista em Portugal o ano passado, com 30 mil espectadores, a obra já foi exibida em 93 países.
De acordo com Vítor Marceneiro, que põe em causa a atribuição do Prémio Goya à melhor canção original do filme, "o Fado da Saudade está muito bem cantado, a letra é muito boa, mas "não só os direitos de autor não foram pagos" como "o nome do avô não vem nem ficha técnica, nem na banda sonora". "E o Fado da Saudade, interpretado por Alfredo Marceneiro, com data de 1926, está registado na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA)", acrescenta.
Ouvido entretanto, pelo DN, Carlos do Carmo, que editou recentemente um álbum incluindo quatro fados do autor de Tricana e de Janela da Vida, considerou "de uma imensa deselegância esta questão chegar-lhe por via da Comunicação Social, uma vez que, se há alguém que admire, do fado no masculino, é Marceneiro". Além disso, sublinhou que a sua carreira "não é feita de aldrabices": "Trata-se de um fado menor com versículo, ou seja uma forma musical popular, anónima que eu interpretei. Jamais usurpei, para mim, o que pertence aos autores." Comentou: "Estando em causa a música, o que tenho para dizer é que quem não ganha dinheiro com isso sou eu. Estes fados populares são do património de toda a gente e de ninguém."
O fadista adiantou ainda que o filme foi feito com muito amor ao fado e grande empenho da sua parte, sendo que o neto de Marceneiro deve entender-se com a produção, "já que foi esta a solicitar o que entendeu".
Contactado pela Lusa, o produtor de Fados, Ivan Dias, disse que "o Fado da Saudade é um fado menor com versículo com arranjos dos músicos que acompanham de Carlos do Carmo", acrescentando que o fadista o interpretou a seu modo."
Fernando Pinto do Amaral - relembrando que o Prémio Goya foi para a "melhor canção original" -, disse, por outro lado, ao DN, enquanto autor da letra, que escreveu o poema expressamente para o filme.
"Trata-se de um texto original concebido para aquele fado que é uma adaptação do fado sob a forma do versículo. A polémica detém-se na música, por isso não me quero pronunciar sobre ela" - salientou.
Lucas Serra, da área jurídica da SPA, confirmou, entretanto, ao DN que o fado menor (popular e anónimo) com versículo está registado por Alfredo Marceneiro naquela sociedade, revelando que foi somente pedida autorização, no que se refere à obra de Carlos Saura, para utilização do fado menor.
"Se foi usado, no filme, o fado menor com versículo, teria sido necessária autorização da Sociedade Portuguesa de Autores em representação dos herdeiros." Se assim aconteceu, os interessados poderão, se entenderem, "interpor um processo por utilização não autorizada do fado menor com versículo", explicou.