"Disponível, mas só avanço com garantia de ter 75% dos votos"

Ainda não estão marcadas as eleições para a Federação Portuguesa de Rugby, que já não irão ocorrer este mês com estava previsto, mas o antigo presidente entre 2005 e 2010, Carlos Amado da Silva, já se posiciona para novo mandato para resolver a grave crise do râguebi português.
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Depois de cumprir um mandato de cinco anos como presidente da Federação Portuguesa de Rugby (FPR) entre 2005 e 2010 - que se seguiu a um período de cerca de 30 anos como presidente de Agronomia - Carlos Amado da Silva, 71 anos, apresentou ontem a sua candidatura às próximas eleições para a FPR para o quadriénio 2019/23, com o lema "Unir o râguebi rumo o futuro".

Sem anunciar, para já, quaisquer nomes da sua lista ("Tenho definido o perfil das pessoas que pretendo, gente experiente no râguebi e que queira trabalhar, sem ter a preocupação de ter grandes nomes à minha volta ou mesmo patrocínios que depois não dão em nada. Há 20/25 pessoas com quem falei mas não convidei ninguém especificamente, só a partir de agora vou começar a fazer contactos", revelou), o dirigente começou por criticar fortemente o atraso do ato eleitoral.

"Por decisão da Assembleia Geral da FPR de julho passado, a data prevista para as eleições já está há muito ultrapassada. Estamos a meio de fevereiro e não compreendo o atraso na elaboração da listagem dos delegados eleitorais, quando a federação tem serviços administrativos que podem fazer esse trabalho muito rapidamente" criticou. "Ainda por cima numa altura crucial da época em termos desportivos quando se aproximam três jogos decisivos da nossa seleção no European Trophy e vitais para a subida de divisão. Estamos a deitar por terra qualquer projeto coerente. Cada dia que passa é um dia a mais para as decisões de fundo que urge tomar. O presidente da mesa da Assembleia Geral tem que que marcar eleições o mais rapidamente possível", concluiu.

Seguiu-se a explicação quanto às razões da sua candidatura: "Face à minha atual vida pessoal e familiar se calhar nem devia estar aqui, mas pelo amor ao râguebi que sirvo há décadas como jogador, treinador e dirigente, decidi aceitar o repto que me foi lançado pelos presidentes de vários clubes que me contactaram - ainda hoje recebi telefonemas de apoio de outros seis - considerando que posso interpretar um papel conciliador que, neste momento, o râguebi nacional precisa. Cheguei a falar com duas pessoas que pensei poderiam cumprir bem essa função, mas não aceitaram, e como ninguém se chegou à frente, se calhar sou o mesmo o melhor para estabelecer o consenso numa modalidade que tem estado muito dividida. Assim, disponibilizei-me para mais quatro anos com a intenção de recuperar tudo o que perdemos."

Mas foi muito claro quanto ao apoio que pretende: "Só avanço com uma garantia, a de ter à volta de 75 por cento dos votos dos delegados. Se não tiver, acho que deveríamos reunir com outras listas que surjam para forçarmos uma candidatura única. Por experiência própria sei que não se deve governar com votos perto dos 50 por cento como aconteceu nos últimos atos eleitorais."

Financeiramente a FPR parece atravessar uma situação complicada. "Sei que as coisas estão mal, mas não as conheço em detalhe. Sei como deixei a federação mas não sei como a vou receber" disse. "Há que procurar junto da banca tentar resolver os problemas através de um empréstimo bancário, se calhar tendo que hipotecar a sede da FPR - vendê-la seria a últimas das soluções, para mim - e renegociado com credores, com fiz no meu anterior mandato. De mecenas não estou à espera..." e aproveitou para criticar a opção de dotar a federação de um Chief Executive Officer (CEO) remunerado como é pretensão de uma outra candidatura: "Face à terrível situação financeira não faz qualquer sentido ter que pagar a um CEO."

Mas é a área desportiva que mais preocupa Amado da Silva: "Há que mudar. Temos que criar condições para as nossas seleções terem resultados. Sem eles não há apoios nem patrocínios, desenganem-se. Holanda e a Suíça vão ser adversários complicados e que estão preparados para nos vencerem. Nos últimos tempos os nossos principais rivais progrediram, enquanto nós estagnámos. A atual seleção tem jovens de grande potencial mas precisam de ser enquadrados por jogadores experientes, profissionais, que joguem lá fora. Temos que recorrer imediatamente a esses reforços", afirmou com convicção.

E revela "Amanhã mesmo, com um simples telefonema, vários desses atletas viriam representar a seleção. Eles não são mercenários e ao contrário do que se diz, nem pedem dinheiro. Apenas exigem uma coisa, que se arranje dinheiro para podermos pagar aos jogadores que estão em Portugal para poderem treinar a horas decentes, às horas a que os profissionais estão habituados a treinar e não às oito, nove da noite."

E continua. "Nas duas primeiras divisões francesas há por exemplo, neste momento, seis jogadores da 1.ª linha, posição em que temos grandes dificuldades. Mas há que ir lá, falar com eles, com as famílias, com os seus clubes que fazem sempre grande pressão para não os libertarem. É necessário planear bem as coisas, fazer um programa de acordo com o calendário internacional. Há que trabalhar bem, em suma."

Como outros pontos relevantes no seu programa eleitoral surge a necessidade de mexer na estrutura federativa, claramente desajustada da nossa atual realidade ("Temos uma estrutura muito complexa, com demasiada gente para as necessidades, teremos que a adequar, pois infelizmente fazemos agora muito menos jogos"). Anunciou ainda a intenção de alterar o modelo competitivo da Divisão de Honra, a criação de um Conselho de Presidentes "que seja um fórum de discussão dos problemas do râguebi português com frontalidade e lealdade" e a melhoria do desporto escolar.

Programa que tem subjacente a ideia de que "Portugal não é só Lisboa em termos de râguebi" e com uma certeza anunciada: "Há muito que fazer, mas temos soluções para sair da situação complicada que a modalidade da bola oval atravessa."

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