Discotecas estão "a 70 ou 80%". Outono pode ser "sufoco" com pagamento de dívidas à banca

Impactos da pandemia começam a desaparecer à medida que o turismo retoma. Mas os próximos meses podem ser difíceis. "Tecido empresarial não aguentará mais restrições", avisa responsável.
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O verão já é feito sem restrições, mas os espaços de diversão noturna ainda não estão a funcionar na totalidade. A afirmação é feita por Ricardo Tavares, da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores (APBDA). "Na esmagadora maioria, as casas estão a funcionar a 70 ou 80 por cento da capacidade máxima", diz ao DN.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados na quinta-feira, tudo aponta para que este verão seja um dos melhores - se não mesmo o melhor - de sempre. Pelo menos na hotelaria. Isto porque o caso muda de figura nas discotecas e nos espaços de discussão noturna, explica Ricardo Tavares. "As pessoas continuam em festa, vão a discotecas mas, ainda assim, é um ano um bocadinho atípico", afirma o responsável. José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas, concorda: "A cultura da noite perdeu-se um bocadinho. Há toda uma geração que ia começar a sair à noite que acabou por não o fazer. Os que saíam antes também acabaram por mudar de hábitos e a noite reconfigurou-se um pouco."Além disso, considera José Gouveia, "as discotecas começaram a ter concorrência, sobretudo de conceitos que juntam a restauração e a diversão e que fazem com que as pessoas acabem por ir jantar e fiquem para o resto da noite. Os grandes centros urbanos perderam muita noite."

Num setor que está agora a recuperar dos constrangimentos dos últimos tempos, os próximos meses podem ser fáceis. "A partir de outubro ou de novembro, os empresários vão ter de começar a pagar as dívidas contraídas à banca no período de pandemia" e, aí sim, "o setor vai começar a sentir na pele os efeitos". Juntando a isto, considera Ricardo Tavares: "É impensável sequer equacionar mais medidas e restrições ligadas à covid-19 com a chegada do inverno. Depois de um verão com tanta liberdade de pessoas, acho que nem o governo pode pensar em algo assim. O tecido empresarial não aguenta mais".

Para já, em pleno verão, o registo é festivo. Mas nem tudo é positivo. Segundo o presidente da APBDA, têm existido, nos últimos tempos, queixas - sobretudo de turistas - devido ao fecho de esplanadas de bares, maioritariamente em Lisboa. O responsável afirma que, já por mais do que uma ocasião, "as esplanadas fecham de um dia para o outro. As licenças não são renovadas e há pessoas que, num dia, estão num espaço e, no dia a seguir, chegam lá e o espaço onde estiveram já não tem esplanada. "Isso acaba por afastar as pessoas", considera. Estes casos têm acontecido sobretudo em Lisboa, "no Bairro Alto e no Cais do Sodré".

Além disso, nas últimas semanas têm também sido conhecidos relatos de alegados problemas com a falta de policiamento na noite de Lisboa e Porto. Na ótica do presidente da APBDA, "o problema é outro". No que ao Bairro Alto diz respeito, "é um falso problema. Há uma esquadra na zona, tem efetivos e não fechou". Por sua vez, José Gouveia deixa críticas ao governo central. "Não faz qualquer sentido ser exigido aos espaços uma estratégia de vigilância e de segurança quando o próprio governo não tem uma estratégia de segurança para a noite. A Administração Interna pouco ou nada tem feito pela segurança dos espaços", refere, apontando: "O governo é exigente com os empresários, mas pouco exigente consigo próprio."

"A Polícia Municipal persegue os empresários"

O presidente da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores aponta falhas ao executivo de Lisboa liderado por Carlos Moedas. "Quando um dono ou um empregado de um estabelecimento vê alguma tentativa de assalto ou algo parecido, alerta a Polícia Municipal que diz que não é competência deles, mas sim da Polícia de Segurança Pública", refere Ricardo Tavares, acrescentando: "Muitas vezes, a própria Polícia Municipal acaba por pedir licenças e documentação aos estabelecimentos e multa os proprietários". Na ótica do responsável, isto demonstra que "a Polícia Municipal persegue os empresários". Também José Gouveia aponta falhas na segurança: "As esquadras móveis não fucionam, foram um paliativo. Nada é feito, sobretudo por uma questão de teimosia do governo."

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