Direita alemã em renovação, extrema-direita debaixo de fogo
Uma empresa farmacêutica suíça transferiu 130 mil euros como donativo para a campanha de Alice Weidel - a cabeça-de-lista da Alternativa para a Alemanha (AfD) -, em violação às leis eleitorais alemãs. Entre julho e setembro de 2017, a empresa sediada em Zurique fez chegar 18 entregas para a secção do partido no lago de Constança.
Para que não houvesse dúvidas, os extratos das transferências de francos suíços da empresa PWS tinham no título "donativo para a campanha de Alice Weidel".
Segundo o Suddeutsche Zeitung, a tesoureira do círculo eleitoral do lago de Constança avisou em agosto o tesoureiro estadual: "Alice Weidel está a receber doações para as eleições. Um doador da Suíça apoia Alice com vários milhares de francos suíços por semana. O que devemos fazer?"
Pelos vistos o que fizeram foi insuficiente e fora de tempo. A lei estipula que os donativos provenientes de países exteriores à União Europeia são ilegais. Além disso, um partido que receba mais de 50 mil euros do mesmo doador é obrigado a informar de imediato o presidente do Bundestag (parlamento).
A colíder da AfD, bem como da bancada parlamentar do partido nacionalista, residiu na Suíça, onde mantém uma casa.
Na segunda-feira, Weidel reagiu ao caso tendo explicado que só soube do financiamento em setembro, que desconhece a empresa em questão e que decidiu devolver o dinheiro, o qual fez questão de lembrar que não foi para a sua conta.
Em conclusão, a ex-funcionária do Goldman Sachs recusou retirar quaisquer consequências do caso, isto é, demitir-se.
Mas segundo a notícia avançada pelo jornal em conjunto com as rádios NDR e WDR, a devolução do dinheiro não foi total (faltam seis mil euros) e só aconteceu em abril deste ano, mais de seis meses depois, pelo que o procedimento foi incorreto.
Segundo explicou Martin Morlok à Deutsche Welle, o dinheiro teria de ser devolvido de imediato ao doador, caso contrário tinha de ser encaminhado para o Bundestag. Desta forma pode configurar uma operação de empréstimo ilegal.
A única reação dentro do partido foi do líder estadual da AfD. Para Ralf Özkara, "se for confirmado que Weidel sabia disso, deve assumir a responsabilidade principal". Para o dirigente de Baden-Württemberg" caso se confirme um caso de financiamento ilegal de campanha, Weidel terá de "renunciar a todos os cargos que ocupa".
Comentário similar ao caso foi feito por responsáveis dos Verdes e do SPD.
O líder da União Social Cristã, Horst Seehofer, de 69 anos, anunciou que vai renunciar à liderança do partido. No entanto, esclareceu que não vai demitir-se do governo de coligação. "Sou o ministro do Interior e continuarei a ocupar o cargo", afirmou na segunda-feira, durante a inauguração de instalações policiais no estado da Saxónia.
Com esta declaração desmentiu as fontes da CSU (partido que só concorre no estado da Baviera) que haviam adiantado à imprensa que Seehofer não quereria terminar a legislatura. "2019 vai ser o ano de renovação da CSU", terá declarado internamente.
Seehofer acaba por tomar uma decisão semelhante à de Angela Merkel, que no fim de outubro, após mais uns resultados eleitorais dececionantes, revelou que não iria continuar a dirigir a CDU. Os delegados do maior partido conservador reúnem-se em dezembro, em Hamburgo, para escolher o seu sucessor.
Já os órgãos da CSU, de acordo com a Deutsche Welle, deverão reunir-se no início do próximo ano. O ministro-presidente da Baviera, Markus Söder, de 51 anos, é considerado o sucessor natural de Seehofer.
Também a CSU sofreu o pior resultado desde 1950 nas eleições regionais da Baviera, em outubro, ao perder a maioria absoluta.
Líder dos conservadores bávaros durante uma década, Seehofer entrou em confronto com a dirigente da CDU e do governo desde a crise migratória de 2015, quando esta abriu as portas a mais de um milhão de refugiados e migrantes.
A oposição pública à chanceler resultou em várias crises políticas que por mais de uma vez ameaçaram a continuidade da coligação. Desde o início do ano a política migratória e a segurança nas fronteiras foram os temas responsáveis pelos conflitos. São também estes os temas que têm feito galgar a popularidade da AfD e levado à erosão dos três partidos da coligação, a CDU, a CSU e os sociais-democratas do SPD.
Com a CDU e a CSU em processo de renovação e o SPD ainda a lamber as feridas dos maus resultados eleitorais e da mudança de chefia (de Martin Schulz para Andrea Nahles), os partidos da grande coligação continuam a ser fustigados nas sondagens e nas eleições regionais.
No entanto, há um dado novo sobre a paisagem política alemã. A mais recente sondagem aos alemães, publicada pelo Bild, demonstra uma clivagem cada vez maior entre géneros nos dois partidos que mais sobem no espetro político alemão.
Se os homens não fossem votar, os Verdes ganhariam as eleições com 28%, seguidos da CDU/CSU com 27%. A AfD teria apenas 7%. Pelo contrário, se as mulheres não exercessem o direito de voto, a AfD alcançaria o segundo lugar, com 22%, menos um ponto do que a CDU/CSU. Verdes e SPD empatariam na terceira posição com 16%.
Juntos os votos, a CDU/CSU tem 25% das intenções de voto e Verdes 22%. SPD e AfD estão igualados no terceiro lugar com 15%.