Direção do Património Cultural desmente uso de betão no Mosteiro de Alcobaça

A denúncia de que a escadaria do monumento estaria a ser reparada com betão causou polémica. A DGCP garante que a reparação está a ser feita com argamassa de cal e areia.
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Nos últimos dias o silêncio à volta do Mosteiro de Alcobaça tornou-se ensurdecedor. Desde que começaram a ser visíveis as obras no exterior do monumento - classificado pela UNESCO como património da Humanidade, um rol de dúvidas e críticas abalaram os dias de confinamento. O alerta chegou através de um comunicado do PS local - que em Alcobaça é oposição, e espera recuperar a autarquia nas eleições deste ano - denunciando a utilização de betão na escadaria monástica. A acompanhar o documento, um conjunto de fotografias captadas pelo próprio presidente da concelhia (e deputado municipal), Rui Alexandre.

"O PS Alcobaça não pode ficar indiferente a tamanha atrocidade ao nosso património e gostaria de uma explicação urgente por parte da Edilidade a todos os munícipes para o que se está a passar", escreveu o responsável partidário, referindo-se ao que considerava ser "betão", no restauro da escadaria monástica, "ou a construção de uma rampa de acessibilidade na Ala Norte do Mosteiro". "Qualquer das situações é grave, pois estamos certos que há outras formas de o executar sem prejudicar o Património", disse o presidente da concelhia do partido. Um dia depois, a TVI exibia uma peça a respeito da obra, e o presidente da Câmara, Paulo Inácio, demarcava-se de qualquer responsabilidade na obra, sublinhando porém ter sido informado de que "estaria tudo a ser feito com todos os critérios exigidos para o efeito".

Confrontada pelo DN esta segunda-feira, a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) acabaria por emitir um comunicado, considerando tratar-se de uma "informação falsa", "que de modo algum corresponde à intervenção em curso neste Monumento".

"A propagação de informações falsas é sempre um ato condenável. Neste caso concreto, tratando-se de um Monumento Nacional que é Património Mundial, as consequências desta mentira ultrapassam o âmbito local, afetando a reputação de Portugal - e do nosso Património - no mundo, nomeadamente junto de instâncias como a UNESCO", refere o comunicado da DGPC, que esclarece estar em curso no Mosteiro de Alcobaça a empreitada "Conservação e Restauro da Fachada Oeste e Norte Rebocada" com conclusão prevista para o próximo mês de Julho.

De acordo com a DGPC, a obra integra diversos trabalhos, nomeadamente o tratamento da pedra da fachada da Igreja, a reparação e pintura de rebocos, caixilharias e gradeamentos e também a melhoria das condições de acesso exterior à nova Portaria-Bilheteira do Mosteiro.

"O acesso exterior compreende uma escadaria muito danificada pelo tempo e pelo uso. Os seus degraus apresentam deformações consideráveis e perdas muito significativas de material pétreo colocando em risco a sua utilização em condições de segurança", explica fonte daquele organismo. "Nestas circunstâncias, e para preservar a escadaria, entendeu a equipa projetista não substituir ou reparar as pedras existentes - princípio da autenticidade - tendo optado por revestir os degraus em dois lances simétricos, junto do muro do varandim, por uma chapa de aço cortene (com o aspeto idêntico à guarda do varandim), revestida interiormente por um filme de borracha expandida".

Uma vez que a chapa de aço "não pode ser colocada diretamente sobre uma pedra instável sem causar danos e de forma segura para o utilizador, a superfície dos degraus foi regularizada com recurso a uma argamassa de cal e areia separada da pedra por uma manta de fibra geotêxtil, o que permite que, em qualquer altura, possa ser removida - princípio da reversibilidade", justifica a DGPC, adiantando que ao longo destes dois lances de chapa de aço cortene que dão acesso ao varandim da fachada do Mosteiro - e à Nova Portaria e à Igreja - "será também instalado um corrimão, permitindo a circulação segura de fiéis e visitantes".

Entretanto, os vereadores do PS e do CDS na Câmara de Alcobaça também tinham já confrontado aquela entidade a respeito das obras. Também os deputados eleitos pelo PS à Assembleia da República questionaram a Secretaria de Estado da Cultura. Rui Alexandre, que tomou a iniciativa de fazer a denúncia, disse ao DN estar à espera que a obra passe a ser fiscalizada como se impõe. "Se não é betão, eles que provem".

A comissão portuguesa do ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios) deslocou-se entretanto ao local para uma ação de fiscalização., concluindo que "ao contrário do que foi denunciado, não se trata de um "atentado ao património", mas sim de proteger e garantir a materialidade dos degraus originais, construindo de forma reversível, camadas de desgaste e de proteção que permitam o acesso ao monumento em condições mínimas de segurança".

De acordo com o relatório da comissão, "esta intervenção não incide na totalidade da escadaria nordeste, mas apenas nos lances laterais esquerdo e direito, ficando a zona central totalmente igual. Ao criar um acesso continuo de ambos os lados da escadaria é possível a utentes destros e canhotos subirem e descerem as escadas em segurança, apoiando-se num corrimão, similar ao existente na escadaria poente e a fixar nas juntas das cantarias". Segundo o relatório divulgado esta terça-feira, com esta intervenção ficam protegidos os degraus originais, evitando-se a sua progressiva degradação devido ao aumento de desgaste a que iriam estar sujeitos. "Com este método, fica igualmente garantida a reversibilidade da intervenção e a incompatibilidade dos materiais, já que irão ficar separados pela manta geotêxtil e pelo Neoprene. O revestimento final em aço corten irá constituir a superfície de desgaste, que poderá ser substituído integralmente e sempre que necessário, sem dano para os degraus originais, para além, de garantirem o acesso em segurança",

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