Dilma e Cunha trocam farpas em dia de novo 'impeachment'

Presidente brasileira Dilma Rousseff diz que não há corrupção no seu governo.
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"O meu governo atingido pelas notícias em torno do presidente da Câmara dos Deputados? Porquê? Ele não faz parte do meu governo. Lamento apenas que esteja um brasileiro envolvido nessas notícias", afirmou Dilma Rousseff, na segunda-feira, durante uma visita oficial à Suécia, a propósito das denúncias de corrupção que pairam sobre o seu inimigo declarado Eduardo Cunha.

Este, em Brasília, não gostou e reagiu horas depois: "E eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo." Ontem, já na Finlândia, a presidente voltou a comentar: "O meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção, não é o meu governo o acusado atualmente."

O pingue-pongue, da Escandinávia à capital brasileira, entre os maiores representantes de dois dos três poderes dá conta da tensão política no Brasil: no dia em que foi entregue na Câmara dos Deputados o mais relevante de todos os pedidos de impeachment até agora, Cunha envolve-se numa discussão pública com a presidente, cujo futuro, pelo menos numa primeira fase, vai decidir. Tanto que auxiliares de Dilma, citados pelo canal Globo News, aconselharam a chefe do Estado a encerrar a discussão. "Apesar de na avaliação do Planalto Cunha não ter mais credibilidade ou legitimidade para comandar o processo de impeachment, ele ainda tem a caneta na mão", referiu o colunista do canal Gerson Camarotti.

O pedido de impeachment em causa é a segunda versão de um documento subscrito por Hélio Bicudo, fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), em rota de colisão com Lula da Silva e outras lideranças do partido, Miguel Reale Júnior, que foi ministro da Justiça dos governos de Fernando Henrique Cardoso, e Janaína da Conceição Paschoal, professora de Direito e apoiante do movimento pró impeachment Vem pra Rua (ver entrevista ao lado).

A primeira versão foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal porque, defenderam os juízes, Cunha e a oposição usaram uma manobra não prevista na Constituição para garantir a aprovação mais segura do pedido - o impeachment, depois de autorizado por Cunha, para prosperar precisa dos votos de dois terços dos deputados.

A discussão entre Cunha e Dilma surge num momento de fragilidade dos dois protagonistas da política brasileira. A presidente bate recordes de impopularidade, tem em mãos grave crise económica e ainda é alvo de tribunais, como o Tribunal de Contas e o Tribunal Eleitoral, cujas sentenças podem dar justificação para impeachment ou até perda de mandato. Já o líder da câmara baixa do Congresso Nacional foi citado cinco vezes por delatores do escândalo de corrupção conhecido como Petrolão; segundo os ministérios públicos do Brasil e da Suíça, mantém cinco contas secretas milionárias no país europeu alimentadas com dinheiro da Petrobras e ainda é alvo de denúncia de alguns dos seus pares na Comissão de Ética na câmara.

PMDB adia congresso

Eduardo Cunha é membro do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), principal aliado do PT, embora seja, a título individual, oposição ao governo. No seu todo, o PMDB também equaciona romper a aliança, apesar de na última reforma governamental ter sido presenteado com mais duas pastas no executivo de Dilma. "São apenas duas suites no Titanic", resumiu, porém, Romero Jucá, senador do partido.

Um congresso extraordinário desta formação política, que decidiria a continuidade ou a rutura com o Partido dos Trabalhadores, marcado para novembro, foi entretanto adiado para março. Embora oficialmente as lideranças do partido atribuam o adiamento a razões logísticas, os analistas consideram que o PMDB quer ganhar tempo e esperar para ver como se desenvolvem os processos de impeachment da presidente.

Dilma e Lula ilibados

Na comissão parlamentar de inquérito aberta no Congresso para investigar o escândalo do Petrolão, cujo andamento tem recebido críticas de todos quadrantes, Dilma e o seu antecessor Lula da Silva foram ilibados de qualquer responsabilidade no esquema de corrupção, por falta de provas. Já em Curitiba, sede da operação Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro aceitou novas denúncias contra Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, maior construtora do país suspeita de envolvimento no Petrolão.

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