Dilemas existenciais
O acordo-relâmpago na Catalunha inviabilizou novas eleições, mas será que terá o mesmo efeito no resto de Espanha? Os dois impasses estão intimamente ligados. Primeiro, porque o estatuto catalão é um dos pontos de discórdia para PSOE e Podemos formalizarem uma "grande coligação progressista", como lhe chamou Pedro Sánchez, em Lisboa - o outro ponto é a formalização de mais do que um grupo parlamentar do Podemos, dado que as suas parcerias regionais multiplicariam as verbas a que tem direito. Segundo, porque o Podemos está mais interessado em novas eleições do que em legitimar um governo PSOE que salve Sánchez e adie a sua pasokização. Em última análise, o que o Podemos quer é empurrar o PSOE para a alçada do PP e do Ciudadanos, para se posicionar como único reduto da oposição e das autonomias ou dos independentismos regionais com voz grossa no Congresso. Ou seja, o acordo que na Catalunha levou à chefia do seu governo um independentista ainda menos dado à negociação do que Artur Mas tende a gerar uma frente pela unidade de Espanha, forjando uma grande coligação, não "progressista" como queria Sánchez mas possivelmente salvadora desta Espanha. Assim, Sánchez viabilizaria in extremis um governo com Rajoy, dando apenas aval conjuntural à investidura e ao orçamento deste ano, mas revendo lei a lei o seu sentido de voto. A única questão que teria longevidade política seria a unidade do Estado. Desta forma, não vergava às exigências de Iglesias, acalmava a oposição interna, garantia um socialista na presidência do Congresso (Patxi López) e descomprometia-se com o PP noutras matérias. Claro que nada disto garante durabilidade ao governo (nem Sánchez o deseja), mas pelo menos amplia a frente anti-independentista e pode tirar algum momentum a Pablo Iglesias. Espanha e o PSOE vivem o mesmo dilema existencial.