Dijsselbloem recusa entrar no governo. E o Eurogrupo como fica?

Regras permitem ao holandês continuar como líder, mesmo sem ser ministro. Centeno é nome falado para o substituir
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Ministro holandês das Finanças em funções, Jeroen Dijsslebloem, garantiu ontem que o seu Partido Trabalhista não fará parte da coligação governamental que anda a ser negociada desde as legislativas de 15 de março. Afirmação que coloca a questão: o que acontecerá à presidência do Eurogrupo, cargo para o qual tem mandato até janeiro?

Dijsselbloem, em entrevista ao Financieele Dagblad, foi taxativo quanto à possibilidade de se manter à frente da pasta das Finanças no próximo governo, rumor que circula em Haia: "É uma questão que não se coloca. É impensável fazer parte de um governo de direita". E acrescentou que depois de terem "salvo o país nos últimos anos, agora é altura de salvar o partido". Os trabalhistas faziam parte de coligação governamental liderada por Mark Rutte, mas, nas últimas eleições, caíram de 38 para 9 deputados.

A liderança de Dijsselbloem no Eurogrupo começou a ser questionada no final de março quando, em entrevista, o holandês disse algo interpretado como uma acusação aos países do sul da Europa por gastarem o dinheiro em álcool e mulheres e depois pedirem ajuda. Portugal pediu a sua demissão, tal como o Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu, e o presidente dos eurodeputados socialistas, Gianni Pittella, mas Dijsselbloem recusou afastar-se ou pedir desculpa.

Com mandato como líder do Eurogrupo até janeiro - foi reeleito para um segundo mandato de dois anos e meio em julho de 2015 - o holandês deixou claro que iria manter-se no cargo até aos seus 18 colegas ministros das Finanças da zona euro quererem e não fechou a porta a uma nova reeleição, mesmo não fazendo parte de nenhum governo.

A primeira hipótese não parece impossível: até agora nenhum ministro pediu a sua demissão e, no que diz respeito à Holanda, as negociações para uma nova coligação governamental parecem longe de terminadas, o que quer dizer que Dijsselbloem deverá continuar como o ministro das Finanças em funções por mais uns tempos.

A segunda hipótese seria inédita, mas não impossível. Como já explicou o próprio Jeroen Dijsselbloem. "As regras da UE não têm nada contra. Dizem apenas que os ministros do Eurogrupo escolhem um presidente por uma maioria simples por um período de dois anos e meio. Não é dito que o presidente tem de ser ministro", disse em entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Apelidado na semana passada de "Ronaldo do Ecofin" pelo ministro das Finanças alemão, Mário Centeno tem sido dado como um hipotético substituto do holandês. Na terça-feira passada, o secretário de Estado das Finanças escusou-se a comentar a possibilidade de Centeno assumir a presidência do Eurogrupo, mas garantiu que Portugal "não vira as costas" às suas responsabilidades no projeto europeu.

Na véspera, António Costa havia comentado que se trata de "uma escolha que cabe ao Eurogrupo" e que Portugal não apresentou a sua candidatura, mas referiu que o país "também não foge das suas responsabilidades" e admitiu que se Centeno fosse escolhido para suceder a Dijsselbloem tal "será uma grande honra para Portugal".

A seu favor Centeno tem o facto de pertencer à família socialista, tal como Dijsselbloem. Fator que ajudaria a manter o tradicional equilíbrio de poder em Bruxelas já que, neste momento, as presidências da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu estão nas mãos do PPE.

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