Diferentes formas de solenidade

As escolhas de Inês N. Lourenço para o LEFFEST
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Quando se anunciou a homenagem a Isabelle Huppert no LEFFEST, a primeira pergunta que me ocorreu foi se A Cerimónia seria um dos filmes escolhidos para a ocasião. Para meu e vosso regozijo, aqui o encontramos. Quem quiser seguir os caminhos da atriz francesa no vasto programa, esta é uma paragem obrigatória. Título de 1995, com assinatura de Claude Chabrol - que então já tinha filmado Huppert no dialeto da perversidade em Violette Nozière (igualmente entre as escolhas do Festival) -, A Cerimónia é uma das mais expressivas obras da dupla atriz-realizador. No papel de uma funcionária dos correios que trava amizade com a governanta de uma família burguesa, ela é o rosto perfeito da violência oculta que se vai manifestar de forma impetuosa e memorável contra os ricos. Revê-la nesse ímpeto será certamente um grande momento.

Aproveitando o embalo dos cenários violentos e títulos solenes, destaco também O Funeral, de Abel Ferrara, o filme que abre com a imagem de Humphrey Bogart e a voz de Billie Holiday, a cantar Gloomy Sunday... Uma história de gangsters que é sobretudo um retrato pujante dos laços familiares, nas brilhantes interpretações de Christopher Walken, Vincent Gallo e Chris Penn.

Já dentro da seleção oficial, a primeira sugestão é Lucky, de John Carrol Lynch, última e gloriosa performance de Harry Dean Stanton, filmada com uma enorme gentileza. Ali está o homem de 90 anos que fuma um maço de cigarros por dia, faz palavras cruzadas e bebe Bloody Marys enquanto espera a morte, na sua frágil silhueta de western. Numa das cenas mais comoventes do filme, escutamo-lo a cantar uma canção mexicana.

Em Western, outro dos títulos da competição, da alemã Valeska Grisebach, também descobrimos uma silhueta masculina a cavalo, correspondendo à imagem do género. Mas o sentido deste título é mais profundo do que ilustrativo, contemplando a "aventura" de um grupo de trabalhadores alemães numa zona rural da Bulgária. A dinâmica humana entre estrangeiros, presente sobretudo na expressão dos corpos, é aqui observada com uma subtileza desarmante.

Finalmente, uma palavra para Peter Brook e a adaptação de Moderato Cantabile, nesta oportunidade especial de recordar Jeanne Moreau.

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