Diferenciação no mercado é feita pelo processo criativo
Depois da Inovação, cujas histórias de sucesso foram apresentadas ao longo do mês de janeiro, é a vez de o DN se dedicar, durante este mês, a analisar o 'design' em Portugal nos sectores e nas empresas
O design e a inovação tornaram-se, nos últimos anos, não só temas recorrentes no discurso político e de motivação económica mas também parte do dia a dia das empresas, conscientes de que estes constituem elementos fulcrais do seu sucesso. Os chamados fatores imateriais de competitividade ditam grande parte da capacidade de se afirmarem nos mercados internacionais, em que a diferenciação se faz, necessariamente, através do processo criativo e não mais pelo fator preço. Como salienta Beatriz Vidal, vice-presidente do Centro Português de Design, é através desta disciplina que se interpretam "tendências de estilos de vida, alterações de consumo, perfis de consumidores, necessidades, vontades e capacidades".
São cerca de 1300 os designers que todos os anos se formam em Portugal, nas diferentes áreas da disciplina. "Temos um ensino superior de Design de enorme qualidade, e cada vez mais profissionais premiados a nível internacional", refere Beatriz Vidal, salientando, no entanto, que "são poucos os que conseguem viver unicamente da sua profissão".
E se é verdade que muito falta fazer, grande são as conquistas obtidas. Entre 2004 e 2010, o número de concessões de design em Portugal passou de 293 para 1776. O que não significa que seja generalizada "a boa e correta utilização do design". Diz Beatriz Vidal que continuam a existir "equívocos" em relação à disciplina, à forma como deve ser integrada e gerida, "para que não se limite a sua intervenção esporádica aos aspetos formais". E acrescenta: "Este é um importante passo que tem de ser dado para que o design possa realmente ser uma resposta integrada num processo."
E "praticamente em todos os sectores" há empresas que reconheceram o valor da disciplina e a foram "integrando com sucesso", havendo, inclusive, empresas de diversos segmentos premiadas nos DME Awards - Design Management Europe, conhecidos como os óscares desta área. Mas não é menos verdade que "há sectores, como o calçado, que, pela forma como se têm organizado e desenvolvido e pelas experiências e leituras que fizeram dos mercados e da concorrência, perceberam que o design era absolutamente crítico para a sua sobrevivência e crescimento", salienta, ainda, a responsável do Centro Português de Design.
E os números do calçado não deixam margem para dúvidas: nos últimos oito anos, o sector registou 250 novas marcas, 30 patentes e dois mil produtos. A prova de que a indústria está a "investir, como nunca, em promoção comercial externa, marketing e design, os chamados fatores imateriais de competitividade, e que é o único caminho possível para que as empresas possam ser cada vez mais diferenciadoras e mais competitivas no mercado global", refere o porta-voz da associação do calçado, a APICCAPS.
Paulo Gonçalves salienta que a própria comunicação da APICCAPS tem subjacente o design já que assenta na marca Portuguese Shoes - Designed by the Future, uma evolução face à década de 80 em que a "imagem institucional traduzia a opção estratégica do sector pela qualidade, sob a marca Portugal Quality Shoes".
A aposta das empresas de calçado nesta área é tão importante que todos os anos "os cerca de 60 jovens designers que saem do Centro de Formação do Calçado e da Escola Profissional de Felgueiras são absorvidos pela indústria muito antes da conclusão do curso", assegura Paulo Gonçalves. Portugal é o 11.º maior exportador mundial de calçado, com uma quota de 2%, correspondente a mais de 1,2 mil milhões de euros. Exporta mais de 95% da produção para 132 países.
Sendo a inovação e a competitividade "fatores críticos para o desenvolvimento de qualquer economia", Beatriz Vidal salienta que o design tem um papel "fundamental e estratégico" no aumento das exportações. Não admira, por isso, que a região norte tenha, por si só, concentrado 41,2% dos pedidos de design (de desenhos ou modelos) em 2010.
A indústria de mobiliário foi responsável, nesse ano, por 15% dos pedidos de registo, enquanto o vestuário assegurou 10%.
Raras são as empresas exportadoras que hoje não contam com um ou mais 'designers' nos seus quadros para o desenvolvimento dos seus produtos. A diferenciação é condição fundamental para a competitividade de indústrias como o calçado, o mobiliário ou o têxtil e vestuário, altamente sujeitos à concorrências dos artigos de preço baixo oriundos da China e dos países do Oriente.