Dietas sem glúten não são para todos. E podem fazer mal

Só os doentes celíacos devem evitar a proteína, alertam investigadores americanos
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Só as pessoas com intolerância, como os doentes celíacos, é que devem fazer dieta sem glúten, já que esta proteína não está associada a riscos de doenças coronárias. O alerta é de investigadores dos Estados Unidos da América que não recomendam a restrição de glúten a pessoas sem a doença celíaca.

O estudo, publicado na revista médica britânica BMJ e que abrangeu mais de cem mil pessoas, indica que a restrição do glúten (proteína existente nos cereais como trigo, centeio e cevada) pode resultar na baixa ingestão de grãos integrais, que estão associados a benefícios cardiovasculares. Por isso, os investigadores defendem que não devem ser encorajadas dietas sem glúten entre pessoas sem a doença celíaca, que afeta pessoas com predisposição genética causada pela constante sensibilidade ao glúten.

"Não surpreende. As dietas sem glúten são uma moda. Generaliza-se a ideia de que as pessoas são intolerantes ao glúten ou à lactose, outro caso muito comum, e isso pode trazer graves consequências a nível alimentar", disse ao DN a nutricionista Paula Veloso, autora de livros como Dietas sem Dieta e Dieta sem Castigo e Peso, uma questão de peso.

"Só os celíacos têm intolerância. De forma moderada tudo deve ser consumido pelas pessoas desde os cereais ao leite", diz a licenciada pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. A nutricionista diz que Portugal tem uma alimentação rica - baseada na dieta mediterrânica - e que o recurso a alimentos ultraprocessados, "o que é necessário para extrair o glúten", não faz sentido.

Em pessoas intolerantes, o glúten desencadeia inflamação e danos intestinais, e está associado a um aumento do risco da doença arterial coronária que é reduzido após o tratamento com uma dieta sem esta proteína. Mas o número de pessoas sem a doença que começou a evitar o glúten aumentou nos últimos anos, por alegados efeitos prejudiciais para a saúde.

Agora esta equipa de investigadores dos Estados Unidos analisou a associação a longo prazo da ingestão de glúten com o desenvolvimento da doença arterial coronária. Reuniu dados de 64 714 mulheres e 45 303 homens profissionais da saúde sem historial da doença, em que um questionário alimentar detalhado em 1986 foi atualizado a cada quatro anos até 2000.

Não foi encontrada uma associação entre a ingestão da proteína e o risco da doença. Este é um estudo de observação e não podem ser retiradas conclusões de causa-efeito. Contudo, os autores concluem que "a promoção de dietas sem glúten com a finalidade de prevenção dessa doença entre pessoas sem a doença celíaca não deve ser recomendada".

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