Díaz-Canel, a mudança na continuidade em Cuba

A eleição do sucessor de Raúl Castro será confirmada esta manhã pelos 604 delegados. Só dois dos novos vice-presidentes nunca tinham estado no Conselho de Estado
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#SomosContinuidade foi o hashtag que a Assembleia Nacional do Poder Popular em Cuba pediu para se usar nas redes sociais para partilhar informações sobre a eleição do novo presidente cubano. Sem surpresas de última hora, Miguel Díaz-Canel, até agora o número dois de Raúl Castro, foi ontem proposto para assumir a presidência do Conselho de Estado e de Ministros e a sua eleição será oficializada esta manhã. Mas é precisamente um apelo contra a continuidade que a Amnistia Internacional emitiu, alegando que a mudança de líder é uma oportunidade para a inauguração de uma nova era nos direitos humanos.

"Em nome da Comissão Nacional de Candidaturas, tenho a responsabilidade e a honra de vos propor como presidente do Conselho de Estado e de ministros da República de Cuba o camarada Miguel Mario Díaz-Canel Bermudez", disse diante dos 604 delegados à Assembleia, a presidente dessa comissão, Gisela Duarte. Os delegados não costumam contestar a nomeação, mas a eleição só será confirmada hoje. Díaz-Canel foi ovacionado, recebendo um abraço de Raúl Castro.

O novo presidente será o primeiro não Castro à frente dos destinos de Cuba desde a revolução de 1959 e é também o primeiro a nascer já depois da vitória de Fidel e Raúl Castro. Faz amanhã 58 anos. Braço direito de Raúl (que deixa o Conselho de Estado e Ministros mas não a liderança do Partido Comunista de Cuba), Díaz-Canel terá pela frente a continuação das reformas económicas na ilha que este começou - e o desafio de acabar com a dupla moeda. Os especialistas dizem que dificilmente empreenderá as mudanças que a geração mais jovem ambiciona.

O número dois do novo presidente será Salvador Valdés Mesa, até agora era vice-presidente. O núcleo duro do Conselho de Estado inclui o veterano Ramiro Valdés, que combateu ao lado dos Castro e é considerado um herói de Cuba. Só dois dos novos vice-presidentes não faziam antes parte do Conselho de Estado. O presidente da Assembleia Nacional continuará a ser Lazo Hernández, reeleito com os votos de todos os 604 delegados. O que reforça essa ideia de "Somos continuidade", apesar de 338 desses delegados terem sido eleitos pela primeira vez, sendo a média de idades 49 anos.

É precisamente essa "continuidade" que a Amnistia Internacional, que não é autorizada a entrar em Cuba há quase 30 anos, gostaria de ver mudar. "Este é um momento oportuno para iniciar um diálogo essencial e construtivo sobre o futuro de Cuba", disse a diretora para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos, Erika Guevara-Rosas. "O novo presidente deve aproveitar esta oportunidade para construir sobre o progresso dos direitos humanos de Cuba em áreas como o acesso aos cuidados de saúde e à educação, abordando os históricos desafios, em especial as constantes restrições nos direitos da liberdade de expressão e de reunião", indicou num comunicado que acompanha o relatório "Transformar o confronto em diálogo".

A Amnistia defende o fim da censura, a atualização do sistema de justiça à luz dos padrões internacionais e o fim da discriminação, entre 15 recomendações que faz. A organização alega que, nos últimos três anos, identificou 11 presos políticos, "detidos apenas pela expressão pacífica das suas opiniões". E lembra que o embargo económico dos EUA (cujo levantamento sempre defendeu) e o facto de o presidente Donald Trump ter recuado na abertura política "vão continuar a minar os direitos económicos e sociais dos cubanos mais vulneráveis".

Quem é quem no Conselho de Estado

Miguel Díaz-Canel

> O até agora primeiro vice-presidente do Conselho de Ministro e de Estado foi nomeado ontem para assumir o cargo de presidente, sucedendo a Raúl Castro. O nome deverá ser confirmado hoje pelos 604 deputados. Será o primeiro não Castro a assumir a liderança de Cuba desde a revolução de 1959. E o primeiro a nascer depois dessa data: faz 58 anos amanhã.

Salvador Valdés Mesa

> Será o número dois, oficialmente primeiro vice-presidente do Conselho de Estado. Era até agora um dos vice-presidentes. Tem 72 anos e já ocupou vários cargos, como secretário-geral da Confederação de Trabalhadores de Cuba ou ministro do Trabalho.

Ramiro Valdés

> É um dos veteranos, tendo o cargo de Comandante da Revolução. Participou ao lado dos Castro no falhado assalto ao quartel Moncada e, após o exílio no México, no desembarque do iate Granma. É um dos heróis da República de Cuba. Será um dos cinco vice-presidentes, repetindo um cargo que já ocupa desde 2009. Faz 86 anos no dia 28.

Roberto Morales Ojeda

> Ministro da Saúde desde 2010, será outro dos vice-presidentes. Médico de formação, tem 50 anos e é desde 2016 membro do Politburo do Partido Comunista de Cuba.

Gladys María Bejerano Portela

> Já era vice-presidente desde 2009, ocupando também desde esse ano o cargo de controladora-geral de Cuba, responsável pela fiscalização dos órgãos do poder público. Antes já tinha sido ministra da Auditoria. Tem 71 anos.

Inés María Chapman

> Já fazia parte do Conselho de Estado, mas agora torna-se vice-presidente. Era, desde 2011, diretora do Instituto Nacional de Recursos Hídricos. Tem 52 anos.

Beatriz Jhonson

> Engenheira química, de 48 anos, foi diretora-geral da Empresa Mista Cimentos Santiago. Era até agora presidente da Assembleia Provincial do Poder Popular em Santiago de Cuba.

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