O governo colombiano senta-se hoje à mesa das negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha do país, num processo mais complexo do que aquele que terminou no acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Não só o calendário é apertado - o presidente Juan Manuel Santos, que venceu o nobel e procura a "paz completa", deixa o poder em 2018 - como a guerrilha ainda não renunciou aos sequestros que a ajudam a financiar e tem reivindicações mais fundamentalistas do que as FARC..As negociações vão começar em Quito, no Equador, um dos países garante do processo, junto com a Noruega, o Brasil, o Chile, Cuba e a Venezuela. Na agenda estão seis temas: a participação da sociedade civil na construção da paz, a democracia para a paz, as transformações para a paz, as vítimas, o fim do conflito armado e a aplicação do acordo final. Do lado de Bogotá, o principal negociador será Juan Camilo Restrepo, que já foi ministro da Agricultura e das Finanças. Da parte do ELN, o papel principal caberá a Pablo Beltrán, membro do comando central da guerrilha, liderada por Nicolás Rodríguez Bautista (Gabino)..O diálogo com as FARC demorou mais de quatro anos e culminou num primeiro acordo que foi recusado pelos colombianos em referendo - a segunda versão está já a ser aplicada, com os guerrilheiros das FARC a fazerem atualmente a sua "última marcha" até aos locais de desmobilização. Mas o ELN, que tem mantido um diálogo intermitente com o governo desde 2014 (e passou por várias tentativas falhadas de negociações nas décadas anteriores), não tem tanto tempo..As presidenciais estão marcadas para 27 de maio de 2018 e Santos está a aproximar-se do final do segundo mandato. Depois da divisão causada pelo referendo sobre o acordo com as FARC, os partidos não quererão fazer concessões no diálogo com o ELN que os possa prejudicar em plena campanha - as legislativas são em março. E nada garante que o próximo presidente queira continuar a apostar neste caminho. Além disso, a tomada de decisões dentro do ELN é mais demorada, já que a sua organização é horizontal e exige-se consenso..Por outro lado, ambas as partes chegam à mesa de negociações em confronto - não foi acordado um cessar-fogo e a guerrilha mantém os sequestros, que são a base do seu financiamento. De facto, foi a não libertação de um refém que causou o adiar do início do diálogo formal, inicialmente previsto para outubro. O ex-congressista Odin Sanchez entregou-se há dez meses ao ELN em troca da libertação do irmão, o antigo governador de Chocó Patrocinio Sánchez, que fora sequestrado há quase três anos e estava doente. Odin foi libertado na semana passada, com o governo a soltar dois guerrilheiros que estavam presos. Ontem, em mais uma prova de boa vontade, a guerrilha entregou outro refém, o soldado Fredy Moreno, capturado há duas semanas..Após quatro anos de negociação com as FARC em Havana, a Colômbia está também cansada do tema - já em 2016, a corrupção era vista como o principal problema do país, não o conflito armado que fez 220 mil mortos em 53 anos. O positivo é que esse diálogo lançou as bases para o que poderá agora acontecer, apesar de o ELN apostar em transformações mais profundas a nível do modelo económico e político..P&R.Como nasceu o Exército de Libertação Nacional (ELN)?.› O ELN surgiu em 1964 e entre os fundadores encontravam-se dois padres, Camilo Torres (1929-1966) e Manuel Pérez Martínez (1943-1998, comandante da guerrilha de 1973 até à sua morte), pioneiros da teoria da libertação (que defende uma aproximação aos pobres). Do grupo faziam também parte membros radicais do Partido Liberal, inspirados no guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara..Quem é o atual líder e quantos membros tem?.› O comandante é Nicolás Rodríguez Bautista, conhecido como Gabino, que pertence à guerrilha desde que tinha 12 anos e subiu à liderança do ELN em 1998. Defende uma agenda nacionalista centrada no controlo dos recursos naturais. A guerrilha (a segunda maior da Colômbia depois das FARC) tem atualmente 2500 combatentes e a sua área de influência são as zonas mineiras e petrolíferas do país..Como se financia?.› O sequestro é a principal arma do ELN, que nos últimos anos raptou vários trabalhadores de multinacionais do setor mineiro e petrolífero, cujas infraestruturas têm sido alvo de atentados. É considerado um grupo terrorista pela União Europeia.