Diabetes ainda mata 12 pessoas por dia

Foram 4406 as pessoas que morreram da doença crónica. Por dia há 168 novos casos. Envelhecimento é uma das causas
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Há um crescimento acentuado de novos casos de diabetes diagnosticados em Portugal em 2015, ao ritmo de 168 por dia (mais 18 do que em 2014). A doença crónica afeta mais de um milhão de pessoas na faixa dos 20 aos 79 anos e ainda dois milhões de pessoas na fase de pré-diabetes. Mata 12 pessoas por dia (4406 óbitos em 2015, mais 131 do que em 2014) e é a causa de três amputações por dia.

Estes são alguns dos números que "envergonham" Portugal, e que constam do último relatório "Diabetes: Factos e Números", do Observatório Nacional da Diabetes (OND). O documento será hoje divulgado na Assembleia da República pelo ministro da Saúde.

"Os novos casos de diabetes devem-se, em grande medida, ao envelhecimento da população portuguesa. Hoje Portugal está no topo dos países europeus com maior prevalência da diabetes, devido à diminuição da natalidade e ao envelhecimento da sua população", avalia José Manuel Boavida, presidente do Conselho Científico do OND. A prevalência da doença é de 13,3% em Portugal, na população dos 20-79 anos, com 56% das pessoas com a doença já diagnosticada e outros 44% em que ainda não tinha sido diagnosticada.

Quase metade (40,7%) da população portuguesa adulta já tem diabetes ou pré-diabetes, o que corresponde a mais de 3,1 milhões de pessoas.

O relatório mostra também que houve um aumento do número de mortes de diabéticos no hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Em Portugal, 25,9% das mortes nos hospitais do SNS foram de diabéticos, num total de 12779 pessoas em 49334 óbitos nos hospitais.

"É preciso apostar em políticas globais de prevenção. Temos tido uma política desastrosa de apoio à natalidade. E o incentivo à natalidade é fundamental para inverter a tendência de envelhecimento", comenta José Manuel Boavida.

Na população idosa, a diabetes está galopante: mais de uma em cada quatro pessoas entre os 60-79 anos tem a doença. Em teoria, seriam os mais velhos a ter os melhores hábitos alimentares. Mas até isso mudou. "A distribuição dos alimentos hoje, o papel das grandes superfícies comerciais, o desaparecimento das mercearias de bairro e a diminuição dos produtos frescos disponíveis, levaram a uma modificação de hábitos, até entre os mais idosos", analisa o presidente do Conselho Científico do OND. E lembra que nos últimos 25 anos "foram introduzidos mais de dois mil produtos químicos na alimentação".

A obesidade infantil é uma das consequências dos maus hábitos alimentares. Por todos estes motivos, José Manuel Boavida garante que "tem de haver uma visão global de saúde pública, a pensar no urbanismo, nas condições de vida das pessoas, na alimentação, entre outros fatores". Em Portugal, na sua opinião, "tem-se feito muito pouco ou quase nada em prevenção da diabetes. Depois, acontece como nos incêndios: andamos a apagar fogos", critica o responsável.

Custo por pessoa: 1893 euros

E os "fogos" provocados por esta doença saem bem caros ao Estado. A diabetes custa 1893 euros por pessoa, o que representa um custo de 1936 milhões de euros. Ou seja, foi 1% do Produto Interno Bruto (PIB) português e 12% da despesa da Saúde em 2015.

O custo médio das embalagens com medicamentos da diabetes mais do que duplicou o seu valor nos últimos 10 anos: foram de 238,8 milhões de euros em 2015 (mais 269% face a 2006, quando se situou nos 65,9 milhões de euros). O relatório mostra ainda outro fator preocupante: a subida da diabetes gestacional. Um total de 4847 mulheres foram diagnosticadas com diabetes gestacional em 2015 (em 2006 eram 2987), numa prevalência de 7,2%. Valor que sobe para 15,9% nas mulheres com mais de 40 anos.

"É um número incrível nas grávidas. A prevalência de diabetes gestacional nas mulheres entre os 20 e os 30 anos já é de quase 5%. Por isso defendo que a gravidez devia ser acompanhada na fase pré-concepcional para redução do peso e promoção da atividade física", conclui José Manuel Boavida.

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