Dia Nacional do Chile: Içando as velas

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O Chile comemora amanhã o seu 208.º aniversário de vida independente e portanto não posso deixar de mencionar que Portugal foi o primeiro país do mundo que reconheceu os nossos anseios de liberdade.

Amanhã celebraremos o nosso nascimento como país, mas também celebraremos o muito que conseguimos ao logo destes anos.

Hoje somos um país melhor, mais justo, mais próspero, mais inclusivo e mais diverso, constituído por povos originários e imigrantes de todo o mundo que contribuem para o sonho de um Chile melhor para todos.

Celebraremos com alegria o nosso querido Chile, mas também sentiremos tristeza uma vez que em muito poucos dias mais finalizaremos a nossa missão diplomática e deixaremos a maravilhosa terra portuguesa.

Chegou a hora de começar a dizer adeus e também de agradecer a todos os que contribuíram para consolidar a relação de excelência que existe entre os nossos países.

Desde o momento que cheguei a Portugal - há quase quatro anos - propus-me atingir dois objetivos. Primeiro, aumentar o conhecimento mútuo entre Portugal e o Chile e, segundo, empreender ações que pudessem beneficiar diretamente os nossos povos, os nossos cidadãos. Ou seja, que sintam que a diplomacia é muito mais do que honras, que está mais próxima e que é um instrumento cujo eixo central deve ser trabalhar em benefício do ser humano.

Hoje, devemos regozijar-nos mutuamente porque avançámos em temas que são muito valorizados pela cidadania, tais como a negociação de um Acordo de Reconhecimento Recíproco de Título Profissionais, um acordo de Férias e Trabalho que permite incentivar o intercâmbio de estudantes - turistas, permitindo-lhes adquirir experiência e conhecimentos, assinámos também um importante instrumento em matéria de combate aos incêndios Florestais e Rurais, as nossas agências de cooperação estão a trabalhar em projetos conjuntos em países terceiros, subscrevemos um documento para aumentar a cooperação no âmbito da Prevenção e Reabilitação na área da toxicodependência e do alcoolismo - área em que Portugal conseguiu importantes avanços - e aumentaram os investimentos mútuos em ambos os países.

No âmbito comercial, tentámos aumentar o intercâmbio bilateral e os investimentos para gerar postos de trabalho em ambos os países e partilhar novas tecnologias para aumentar a eficiência e a produtividade.

Também há alguns meses, o Chile aderiu à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), na qualidade de Estado Observador Associado.

Por outro lado, comemoraremos os 500 anos da Travessia - junto com os outros países envolvidos nesta façanha - do navegador português Fernando de Magalhães, cuja proeza constituiu para o Chile algo de muito importante ao descobrir, na região austral do meu país, o Estreito que tem atualmente o seu nome e que permitiu que os grandes mares, o mar do Atlântico e o mar do Pacífico se encontrassem graças ao que é considerada a primeira viagem globalizadora da história.

Nestes quatro anos, o Chile e Portugal trabalharam na consolidação de uma aliança para projetar os seus ideais partilhados com o resto do mundo.

O alto nível das nossas relações bilaterais, reflete precisamente isso, uma unidade de princípios e valores, mas também uma comunidade de objetivos cujo norte é oferecer aos seus cidadãos uma vida mais plena e mais feliz.

A amostra mais palpável do fortalecimento dos nossos vínculos foram a Visita de Estado a Portugal da então Presidente Michelle Bachelet em março de 2017 e a Visita Oficial do Primeiro-Ministro António Costa a Santiago, em junho do ano passado.

Ao finalizar a minha responsabilidade de Estado, é o momento oportuno para agradecer aos amigos, às autoridades e a todos os portugueses que desde a sua particular atividade contribuíram para estreitar a relação bilateral, no mundo empresarial, no mundo cultural, no mundo intelectual e científico, nas organizações sociais, no mundo político e parlamentar.

Finalmente, um muito especial agradecimento a Sua Excelência o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao Primeiro-Ministro António Costa, ao Ministro Augusto Santos Silva e a todos os funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, porque os avanços e acordos alcançados foram possíveis graças a uma vontade política partilhada de fortalecer a nossa aliança internacional, com o fim último de promover, sempre, o bem-estar dos nossos povos. Neste período - que hoje se tornou para mim penosamente curto - vi como Portugal, graças à sua diplomacia, alcançou um notável papel no cenário mundial.

Nestes anos, conhecemos as belezas naturais de Portugal, a sua rica e apaixonante história, mas - sobretudo - o povo português. À mulher e ao homem desta terra, ao camponês e ao empresário, aos jovens - ávidos de rápidas mudanças - e também aos anciões, plenos de sabedoria.

Um obrigado aos amigos portugueses por nos ensinarem, não o que significa a palavra "saudade", mas por nos permitirem partilhar convosco e aprender o sentimento profundo do adeus com a sua mistura de tristeza e de amor por tudo o que nos é querido.

Luís de Camões dizia que "o amor é fogo que arde sem se ver" e Pablo Neruda acrescentava "Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo..."

Que sirvam estes versos, dos grandes poetas de Portugal e do Chile, para as minhas palavras finais.

Tal como as pessoas, os países podem parecer longínquos, distantes, até ao momento em que se encontram, se conhecem, estreitam laços e se unem.

Como diziam Camões e Neruda, eu creio que nestes anos tive também a sorte de presenciar amostras desse "amor que não se vê" entre Portugal e o Chile.

Como modesta homenagem a uma das glórias de Portugal nas pessoas dos seus Navegadores, diremos que vamos içar as velas da nossa Nau despedindo-nos desta terra generosa sem dizer adeus, tal como cantava a nossa Gabriela Mistral:

"En costa lejana

y en mar de Pasión,

dijimos adioses

sin decir adiós".

Até sempre, querido Portugal!

*Embaixador do Chile em Portugal

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