Dia Mundial da Saúde: Nosso planeta, Nossa saúde

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O Dia Mundial da Saúde foi criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com o objetivo de sensibilizar e educar para a importância dos cuidados de saúde e de estilos de vida saudáveis, e é celebrado desde 1950.

Este ano aquela Organização propôs como lema: Nosso planeta, Nossa saúde. Como sempre, a mensagem é muito clara: a nossa saúde depende do nosso planeta e a saúde deste depende de nós. Existe, portanto, uma relação de reciprocidade circular não apenas entre a nossa saúde e a do planeta, mas também com todas as dimensões do nosso bem-estar.

A emergência deste lema impõe-se porque múltiplos sinais de alerta estão a soar por todo o planeta, sendo evidentes as repercussões da intervenção humana sobre a sua saúde, bem como as repercussões das alterações dos ecossistemas sobre a nossa saúde. A continuarmos por este caminho, não haverá distinção entre os mais ricos e os mais pobres, apesar de sabermos que os primeiros a sofrer serão sempre estes últimos.

A poluição, ainda que distante da nossa casa, há de acabar por nos afetar; a escassez de água potável, que neste momento é uma realidade para dois mil milhões de pessoas e que causa cerca de 829 000 mortes por ano, também há de acabar por nos atingir; assim como a emergência de doenças infetocontagiosas próprias de outras latitudes (e.g., dengue).

Assim, e como forma de ir ao encontro do lema proposto pela OMS, é urgente assumirmos o cuidar, como organizador central, das nossas vidas neste planeta.

O cuidar é uma dimensão essencial da vida humana e expressa-se pela preocupação, responsabilidade, reflexão e interesse por nós, pelos outros e por tudo que nos cerca. Percebe-se ainda melhor se olharmos para o significado do antónimo: descuidar (tratar ou fazer algo com descuido; perder ou não ter cuidado). O cuidar é tudo o que permite criar as condições para que a vida e o bem-estar prevaleçam, logo, o cuidar é essencial à vida e ao desenvolvimento harmonioso. O cuidar é essencial em qualquer momento do ciclo de vida, mas é imprescindível ao desenvolvimento de uma criança. Sem isso ela não sobreviverá!

Citaçãocitacao"A nossa saúde depende do nosso planeta e a saúde deste depende de nós. Existe, portanto, uma relação de reciprocidade circular não apenas entre a nossa saúde e a do planeta, mas também com todas as dimensões do nosso bem-estar."esquerda

Resta-nos então cuidar de nós próprios (autocuidado), desenvolvendo o conhecimento e literacia de saúde, ou seja, a capacidade de obter, processar e compreender informações necessárias para tomar decisões adequadas em matéria de saúde; promovendo bem-estar mental e autoconhecimento, ou seja, um estado de bem-estar pelo qual um indivíduo percebe as suas próprias capacidades, pode lidar com o stresse quotidiano, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade; praticando atividade física de intensidade moderada, como caminhar, andar de bicicleta, ou participar em desportos com uma frequência desejável e de preferência em grupo; mantendo uma alimentação saudável e equilibrada, com redução de proteína animal e açucares; evitando ou mitigando os riscos, como deixar de fumar, limitar o consumo de álcool, ser vacinado, praticar sexo seguro, utilizar protetores solares; mantendo bons hábitos de higiene, como lavar as mãos regularmente, escovar os dentes, lavar os alimentos; e utilizando racional e responsavelmente os produtos e serviços de saúde.

Cuidar dos que nos são próximos, porque esses são o nosso lar afetivo. O ser humano é gregário por natureza, porém, as relações são difíceis de manter. Todavia, sabemos que o mais importante fator para um envelhecimento bem-sucedido é o que ocorre no contexto de relações de proximidade/intimidade satisfatórias. Ou seja, as relações são determinantes ao longo de todo o percurso de vida. Então, não nos resta outra alternativa: se queremos chegar a velhos de forma que valha a pena, precisamos alimentar a nossa rede de relações. Por outras palavras, (re)construir sistematicamente o nosso lar afetivo. Alicerçar as relações no respeito incondicional, privilegiar o diálogo, preocuparmo-nos com os outros e expressarmos atenção e afetos serão com certeza contributos importantes para uma boa relação.

Cuidar da nossa comunidade, porque a comunidade em que cada um de nós se insere faz parte da nossa casa. Essa comunidade tem múltiplas dimensões: pode ser o nosso condomínio, a nossa rede de vizinhança, o nosso bairro, a nossa freguesia, a nossa igreja, o nosso partido, a organização onde trabalhamos, entre muitas outras. Cuidar da nossa comunidade é esforçarmo-nos ativamente por criar bom ambiente relacional, respeitar os outros e exigir respeito; é também contribuir para o bem-comum. O meu ruído é a perturbação do sono do outro; a minha improdutividade é o excesso de trabalho do outro; o meu desinteresse pelo bem-comum é a porta aberta para a desagregação da vida em comunidade.

Cuidar do nosso planeta. Ao cuidar da nossa comunidade estamos também a cuidar do nosso planeta. Todavia, precisamos de ir mais além. Precisamos tomar consciência de que os modelos económicos extrativos e de desenvolvimento ilimitado com base em recursos limitados é estúpido e conduzirá inevitavelmente à catástrofe. Precisamos tomar consciência de que os modelos económicos que promovem o consumo desenfreado contribuem para a exaustão dos recursos, mas também para o incremento da poluição com tudo o que lhe está associado. E todos contribuímos para isso enquanto mantivermos o atual estilo de vida. Precisamos de promover a economia do bem-estar. De que nos serve um Produto Interno Bruto elevado se do mesmo não resultar bem-estar para a população?! Na economia do bem-estar a política é enquadrada em termos de bem-estar humano e ecológico, e não simplesmente de crescimento económico; as empresas proporcionam vidas dignas aos seus empregados e existem para satisfazer as necessidades sociais e contribuir para a regeneração da natureza; e as regras da economia são moldadas pela colaboração entre o governo, as empresas e a sociedade civil. Não, não é uma utopia. Veja-se, a título de exemplo, o trabalho desenvolvido pela Wellbeing Economy Alliance em prol da transformação do sistema económico num sistema que proporcione justiça social num planeta saudável.

Professor Coordenador Principal da Universidade de Évora

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