Dia Internacional da Mulher: Valores e prioridades
"Valor, enquanto ética, reflete o grau de importância de alguma coisa ou ação humana, com o objetivo de determinar quais são as melhores ações a serem tomadas para o bem comum ou qual a melhor maneira de viver numa comunidade em sociedade, ou para determinar a importância de diferentes ações"
in Wikipédia
Este ano as Nações Unidas (NU) escolheram como tema de celebração do Dia Internacional da Mulher (8 de março), "Por um mundo digital inclusivo: inovação e tecnologia para a igualdade de género" (em inglês o jogo de palavras é bem mais interessante: "DigitALL: Innovation and technology for gender equality").
Trata-se de um apelo à acção de governos, activistas e sector privado porque nos "vales do silício" o mundo está assim: os homens têm 21% mais probabilidades de acesso à internet do que as mulheres (e nos países de baixo rendimento são 50% essas probabilidades); só 22% de mulheres trabalham em Inteligência Artificial (IA); analisados 133 sistemas de IA, 44% revelaram preconceitos de género; 73% de mulheres jornalistas inquiridas em 125 países sofrem violência online por causa do seu trabalho.
Ora, concluem as NU que a sub-representação das mulheres no mundo das ciências, tecnologias, engenharia e matemática, e o seu afastamento do acesso e desenvolvimento da industria tecnológica, traz consigo que novas ferramentas, digitais e não só, vai acarretar discriminação, preconceito e erros graves, e mais, citando António Guterres "produtos e serviços que alimentam a desigualdade de género e digitalizam o patriarcado e a misoginia (...) decisões médicas baseadas em dados recolhidos de corpos masculinos que (...) podem ser fatais".
E depois, claro, a exclusão das mulheres do mundo digital significou uma perda de 1 milhão de milhões de dólares do PIB dos países de baixos e médios rendimentos, na última década, que subirá para 1,5 MM em 2025 se nada se fizer a esse respeito.
Donde, não é apenas indispensável lutar pela inclusão das mulheres também neste mundo digital para se poderem cumprir os objetivos fixados na Agenda 2030 - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente o ODS 5 (igualdade de género)- como uma necessidade económica por demais evidente.
De resto, todas as pesquisas sustentam que equipas diversificadas e inclusivas tendem a ser mais criativas e inovadoras do que grupos homogéneos.
Ora, dificilmente se chega lá, a esta inclusão das mulheres no mundo digital, nas ciências, tecnologias, engenharias e matemáticas, se não houver uma radical mudança de atitude. A começar pelas empresas privadas. E aí pela inserção paritária de mulheres nos conselhos de administração.
Topei há uns tempos com uma reflexão muito interessante. Dizia a autora que mudanças estruturais nas empresas ocorrem quando o que é central para a sua acção é visto como um valor e não como uma prioridade. Porque as prioridades mudam, os valores não. São os valores que formam a identidade de uma pessoa e, paralelamente, juntamente com a missão e visão, formam a identidade de uma empresa.
Por isso a inclusão paritária das mulheres nos centros de decisão das empresas, de todas as empresas, em todos os sectores, deve ser considerada um valor incontornável, um princípio que irá modelar os objectivos e prioridades da organização. Com resultados económicos mensuráveis e muito apreciáveis. E, já agora, com claros benefícios para "O Nosso Futuro Comum" (recorde-se, primeiro relatório das NU que disseminou a ideia de desenvolvimento sustentável, coordenado por uma mulher).
VP executiva da AHP - Associação da Hotelaria de Portugal