Di Maio cita Gandhi e promete fazer "renascer Itália" com o 5 Estrelas
"Primeiro ignoram-te, depois riem-se de ti, depois atacam-te e no fim tu vences". Foi com esta citação do Mahatma Gandhi que Luigi Di Maio anunciou, no Facebook, que entra na corrida a candidato do Movimento 5 Estrelas (M5S, na sigla em italiano) às eleições do próximo ano em Itália. Criado pelo comediante Beppe Grillo em 2009, o partido - populista, eurocético e anti-imigração - alterna na liderança das sondagens nos últimos meses com o Partido Democrático (PD), do primeiro-ministro, Paolo Gentiloni.
De acordo com as regras das primárias do M5S - cujas candidaturas abrem amanhã ao meio dia -, o candidato a primeiro-ministro escolhido depois online passa automaticamente a ser o líder do partido. Ou seja, Di Maio passará a chefiar o movimento nascido com o objetivo de criar uma ciberdemocracia direta, deixando a Beppe Grillo um papel de "pai" da formação. Um novo equilíbrio de poderes que não agrada a todos os militantes. Afinal cabe ao líder do movimento gerir as votações online, escolher os temas que vão a votação, fixar as regras das candidaturas, exigir a repetição de uma votação ou escolher os árbitros necessários para decidir uma expulsão do partido.
Com Di Maio na corrida, há quem veja estas regras feitas à medida do vice-presidente da Câmara dos Deputados. E se alguns grillistas, como são conhecidos os membros do M5S, defendem o que já chamam de modelo Highlander: "No fim deve haver apenas um". E se for Di Maio, que seja. Outros estão a tentar pressionar o deputado Roberto Fico, visto como o chefe de fila da ala esquerda do partido, a entrar na corrida.
Na sua mensagem no Facebook, Di Maio recorda como tudo começou "há dez anos num banquete" e como na altura muitos dos que hoje constituem o M5S achavam que nem precisariam de "entrar nas instituições" e que "bastava propor aos políticos projetos válidos para serem ouvidos". Depressa perceberam que as coisas não funcionavam assim e a verdade é que, escreve o deputado, "o Movimento 5 Estrelas se tornou na primeira força política do país".
Nascido em Avellino, na Campania, Di Maio seguiu as pisadas do pai na política. Depois de uma passagem pelos cursos de Engenharia e Direito, acaba por desistir dos estudos, tendo trabalhado brevemente como jornalista antes de ingressar no M5S. Eleito deputado, primeiro, em 2013 torna-se no mais novo presidente da Câmara dos Deputados italiana. Hoje com 31 anos, quer vencer as eleições previstas para a primavera e levar o 5 Estrelas até ao Palácio Chigi, a sede do Governo, para fazer "renascer Itália".
A 7 de dezembro de 2016, o então primeiro-ministro Matteo Renzi apresentou a demissão após sofrer uma pesada derrota num referendo à reforma constitucional. O ex-presidente da Câmara de Florença, do PD, deixou o cargo menos de três anos depois de o ter assumido, na sequência da demissão de Enrico Letta, mergulhando Itália num período de incerteza. O lugar de primeiro-ministro foi ocupado pelo até então ministro dos Negócios Estrangeiros: Paolo Gentiloni.
A verdade é que se de início se pensou que o discretíssimo novo chefe do executivo italiano ia ficar no cargo apenas o tempo suficiente para Renzi voltar, hoje a ideia de eleições antecipadas ficou para trás e a verdade é que Gentiloni se pode orgulhar do seu mandato. As previsões de crescimento da economia foram revistas em alta - para 1,5% em 2017, a crise bancária que espreitava foi evitada e até a crise migratória abrandou nos últimos meses, com o número de chegadas a baixar 7% em relação ao mesmo período do ano passado. É verdade que o sistema bancário italiano continua frágil, o desemprego teima em não baixar dos 11% e a questão dos refugiados está longe de resolvida, mas respira-se hoje em Itália aquilo que o jornal financeiro francês Les Échos descreveu como um "otimismo comedido".
Estas vitórias parecem ter dado uma popularidade inesperada a Gentiloni. Apesar de em abril Renzi ter reconquistado a liderança do PD nas primárias, muitos se interrogam hoje se o ponderado Gentiloni não seria um melhor candidato do partido às eleições do próximo ano. Ele, por enquanto, nada disse sobre as suas intenções.
Quarto nas sondagens atrás da Liga Norte de Matteo Savini, Silvio Berlusconi anseia pela primavera. O líder do Força Itália e três vezes primeiro-ministro, acredita que com o método proporcional ainda em vigor, nenhum partido conseguirá a maioria absoluta, precisando dele para governar. Talvez a última oportunidade para o político, de 80 anos. Isto se em novembro o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos revogar a sentença que o proíbe de exercer cargos públicos.