Dez republicanos votaram para destituir Trump. Só dois resistem

Liz Cheney é uma de quatro congressistas que perderam as primárias para os apoiantes do ex-presidente, sendo que outros quatro optaram por nem sequer se candidatar em novembro.
Publicado a
Atualizado a

A congressista Liz Cheney perdeu as primárias no Wyoming e não vai poder ser reeleita para um novo mandato. É a última dos dez membros da Câmara dos Representantes que votaram a favor do segundo impeachment do então presidente Donald Trump a conhecer o seu destino. Só dois deles vão ter a oportunidade de ir às urnas em novembro. Quatro optaram por nem avançar para uma candidatura, enquanto outros quatro acabaram derrotados nas primárias por candidatos apoiados por Trump - que assim mostra o poder que ainda tem no Partido Republicano.

"Disse que vou fazer tudo o que for preciso para garantir que Donald Trump nunca estará novamente sequer perto da Sala Oval e estou a falar a sério", afirmou Cheney no discurso após a derrota nas primárias, onde não foi além dos 29%.

A advogada Harriet Hageman, que praticamente não tem experiência política, mas considera que houve "fraude" nas eleições de 2020 e contava com o apoio de Trump, venceu com 66%.

A filha do ex-vice-presidente Dick Cheney admite uma eventual candidatura à Casa Branca - seja passando pelas primárias republicanas, nas quais Trump é o favorito, ou como independente. Cheney tem sido uma das vozes mais ativas dentro do partido contra o ex-presidente, sendo apelidada de RINO (iniciais, em inglês, da expressão "republicana só em nome"). Ela e Adam Kinzinger, do Ilinóis, são os dois únicos membros do partido na comissão parlamentar de inquérito que investiga a invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021. Mas Kinzinger foi um dos quatro que votou a favor do impeachment de Trump, que optou por nem disputar as eleições.

O anúncio de Kinzinger foi feito em outubro de 2021, depois de ter recebido ameaças de morte e ter sido hostilizado pelos outros republicanos. Estava no Congresso desde 2011.

Também Fred Upton, congressista do Michigan há mais de 30 anos, recebeu ameaças de morte e renunciou às eleições em abril, sabendo que enfrentaria um adversário apoiado pelo ex-presidente e que a campanha lhe sairia cara.

Anthony Gonzalez, do Ohio, que só está no Congresso desde 2019, foi o primeiro a anunciar que não era candidato, logo em setembro de 2021, citando também ameaças a si e à sua família. Já John Katko, congressista de Nova Iorque desde 2015, renunciou em janeiro.

Além de Cheney, outros três congressistas perderam as primárias para adversários apoiados por Trump. Peter Meijer representava o Michigan apenas desde 2021 e perdeu por pouco para o candidato apoiado por Trump, John Gibbs (48,1% contra 51,9%), numas primárias republicanas que teve interferência democrata. Estes gastaram 425 mil dólares em anúncios de televisão, nos últimos dias de campanha, que "atacavam" Gibbs como "demasiado conservador" para a região, numa estratégia para levar os pró-Trump a votar nele, já que o consideram mais fácil de vencer do que Gibbs.

Tom Rice, que procurava o seu quinto mandato como congressista pela Carolina do Sul, foi derrotado por Russel Fry, que teve o apoio do ex-presidente, não indo além dos 25% nas primárias.

Por seu lado, a congressista Jaime Herrera Beutler, que representava Washington desde 2007, perdeu um dos lugares em jogo nas primárias abertas - onde os dois mais votados passam, independentemente do partido. Joe Kent, apoiado por Trump, avançou para as eleições intercalares por apenas 1059 votos.

Nesse mesmo estado, mas noutro distrito, Dan Newhouse teve um destino diferente. Foi um dos dois republicanos que votou a favor do impeachment a garantir que o seu nome estará no boletim de voto em novembro. No Congresso desde 2015, Newhouse enfrentava não só um candidato apoiado por Trump, como outros cinco membros do partido e um democrata (mais uma vez primárias abertas). Beneficiou da divisão de votos, não tendo ido além dos 25%, os mesmos que o democrata Doug White. Num estado onde habitualmente ganha um republicano, é o que tem mais hipóteses de ser reeleito.

A corrida será mais complicada para o lusodescendente David Valadao, que voltou ao Congresso em 2021 após uma primeira passagem entre 2013 e 2019, em representação da Califórnia. Ao contrário dos outros nove republicanos que votaram o impeachment, Valadao não enfrentou nenhum candidato apoiado por Trump (com os adversários a dividirem os votos). Uma das razões poderá ser a sua proximidade ao líder da minoria, Kevin McCarthy, e estar numa zona de tendência democrata, podendo na realidade beneficiar nas eleições por ter votado a favor da destituição do ex-presidente.

susana.f.salvador@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt