Dez pontos de ligação entre belgas e portugueses

Dos confrontos diretos aos jogadores e técnicos que marcaram uma história iniciada há mais de 90 anos em Antuérpia, num triunfo por 2-1 dos "Diabos Vermelhos", atuais líderes do ranking FIFA.
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Apenas duas derrotas (com Suíça e Inglaterra) desde o Mundial2018, onde terminou em terceiro lugar, e número 1 do ranking FIFA: eis o adversário de hoje de Portugal no Europeu, que conta com um lote de grandes jogadores e procura o seu primeiro grande título internacional, uma vez que do seu currículo consta apenas uma medalha de ouro olímpica em 1920. O DN lembra-lhe dez pontos de ligação entre os dois países a nível futebolístico.

A chegada de Michel Preud"Homme ao Benfica foi surpreendente. O guarda-redes que tinha brilhado no Malines (onde ganhou uma Taça, uma Taça das Taças e uma Supertaça) e acabara de ser eleito o melhor guardião do Mundial desse ano veio desfilar a sua classe para o futebol nacional, onde se tornou o primeiro estrangeiro a defender as redes encarnadas. Apanhou um período conturbado na história do clube e, em cinco épocas apenas venceu uma Taça de Portugal. Curiosamente, o Sporting tentou imitar o rival, contratando o sucessor de Preud"Homme na seleção, Filip de Wilde. Já outro guardião belga, Guy Hubart, que fez nove épocas em Portugal, acabou por ficar na história por ter marcado um golo pelo Est. Amadora. E Svilar joga agora na Luz.

A partida de Sevilha vai proporcionar alguns reecontros entre colegas de equipa. Como sucederá com Bernardo Silva e Kevin de Bruyne, artifíces da bela época do City. Ou o central Dendocker, que vai rever quase meia equipa do Wolverhampton. Witsel e Thorgen Hazard podem lembrar Dortmund com Raphaël Guerreiro, enquanto Ferreira-Carrasco e João Felix podem trocar impressões sobre o Atlético Madrid. Denayer pode estar com Anthony Lopes e falar sobre Lyon, o mesmo sucedendo com Verthongen e Rafa Silva tendo o Benfica como tema.

A pouco mais de um mês de participar no primeiro Mundial da história (1930, onde foi uma das três seleções europeias presentes), a Bélgica recebeu Portugal em Antuérpia, naquele que foi o ptimeiro confronto entre ambos. Venceram os belgas, por 2-1, mas nos 17 posteriores a equipa das quinas ganhou um ligeiro avanço: soma seis triunfos contra cinco dos "Diabos Vermelhos" (21-22 em golos), além de sete empates. Há 32 anos que Portugal não perde (um 0-3 em 1989) e CR7 já lhes marcou três vezes em dois jogos (incluindo um bis na maior goleada, 4-0). O último jogo foi antes do Mundial"2018 e acabou 0-0.

Numa altura em que era muito raro um jogador português emigrar para outro campeonato, eis que um avançado de 26 anos trocou o União de Tomar pela Bélgica. Sobrinho de José Águas, primo de Rui Águas, Raul Águas chegou ao Malines/Mechelen em 1975, passando quatro temporadas pelo Reino belga (as duas últimas no Lierse). A partir de 1978 passou a ter a companhia de Norton de Matos, que vestiu a camisola do Standard Liège durante três anos e conviveu com nomes como Preud"Homme, Gerets e o lendário técnico Ernst Happel, tendo vencido uma taça.

A nível de clubes, já foram 11 as formações portuguesas que se encontraram com equipas belgas nas provas europeias - além dos três grandes, Sp. Braga, os dois Vitórias, Boavista, Marítimo, Est. Amadora, U. Leiria e CUF (atual Fabril). A história iniciou-se na Taça dos Campeões de 58/59, quando o Sporting foi derrotado duas vezes pelo Standard Liège (2-3 e 0-3), que foi também o último rival, num confronto com o Benfica na Liga Europa da época passada (2-2 e 3-0 na Luz). Em 83 jogos, 39 vitórias nacionais e 23 belgas, com 21 empates. Na única final entre clubes dos dois países, a fava saíu ao Benfica, derrotado pelo Anderlecht na decisão da Taça UEFA 82/83: depois de um 1-0 em Bruxelas, Lozano igualou o golo de Shéu em Lisboa.

Quando regressou a Portugal para vestir a camisola do Portimonense, Norton de Matos veio acompanhado de um médio belga nascido em Itália, que jogara em equipas modestas e pessara pelo futebol norte-americano. Luciano d"Onofrio quase não jogou no clube algarvio, uma vez que sofreu uma tripla fratura numa perna. Acabou-se carreira de futebolista começou a de empresário: o seu compatriota Serge Cadorin chegou pela sua mão ao Algarve, onde atingiu plano de destaque e chegou a estar nos planos do Sporting - um acidente caseiro com uma bilha de gás, travou-lhe uma carreira promissora. Depois disso, trabalhou com FC Porto, Benfica e Sporting, intermediando transferên- cias sonantes.

Um feiticeiro no Berço

Em 1984-85, com alguma supresa, chegou a Portugal Raymond Goethals para orientar o V. Guimarães. Antigo selecionador belga e vencedor da Taça das Taças pelo Anderlecht, o técnico viu-se envolvido num escândalo que envolvia subornos a jogadores de uma equipa adversária quando estava ao serviço do St. Liège e teve de se refugiar em Portugal, onde levou os minhotos ao 9º lugar. Mais tarde seria campeão europeu em Marselha. Duas épocas depois, chegaria o seu compatriota Henri Depireux (em duas ocasiões pelo Beleneneses) e em 1996 coube ao Sporting apostar em Robert Waseige, sem grande sucesso.

Já falámos de Luciano d"Onofrio, certo? O seu irmão, Dominique, foi treinador do Standard Liège, tendo como adjunto... Sérgio Conceição. O atual técnico do FC Porto tinha jogado três anos no clube e, depois de uma passagem pela Grécia, iniciou-se no banco pelo clube belga - onde o seu antigo colega Jorge Costa se despediu dos relvados, tal como Ricardo Sá Pinto, que depois também foi treinador dos "rouches".

O perigo de Lukaku não se deverá apenas à sua enorme potência física e capacidade finalizadora. É que o avançado belga do Inter Milão não será facilmente enganado e convém Rúben Dias e Pepe estarem atentos ao que dizem: é que Lukaku é também um poliglota. Entre os oito idiomas que domina conta-se o português, que aprendeu para comunicar com os colegas brasileiros (além de Bosingwa) com quem já partilhou balneário. "É importante que todos me entendam perfeitamente", justifica Lukaku, que ainda fala francês, flamengo, lingala, inglês, castelhano, alemão e italiano.

Neste encontro dos oitavos, quatro futebolistas já sabem o que é jogar na liga do adversário. No lado português, Sérgio Oliveira esteve meia temporada no Malines/Mechelen em 2011 cedido pelo FC Porto, enquanto William Carvalho representou o Cercle Brugge durante época e meia, por empréstimo do Sporting. Já no conjunto da Bélgica, Axel Witsel vestiu a camisola do Benfica uma temporada, a mesma que ainda veste Jan Vertonghen.

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texto NUNO COELHO

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