Dez polícias acusados da morte de morador da Rocinha

Dez polícias brasileiros que atuavam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, uma das maiores do Brasil, foram indiciados pela morte de um morador da comunidade, tido como desaparecido desde julho.
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A informação foi divulgada hoje pelo delegado responsável pelo inquérito, levado a cabo na Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, ao longo de dois meses.

Entre os indiciados estão um major, que atuava na altura como o chefe da UPP da Rocinha, e outros nove polícias militares que atuavam sob o seu comando.

Os polícias foram indiciados pelo crime de tortura seguida de morte, e ocultação de cadáver.

O indiciamento foi feito com base no laudo sobre o desaparecimento de Amarildo de Souza que revelou que o morador da comunidade, um ajudante de pedreiro, de 43 anos, fora submetido a choques elétricos e asfixia com sacos plásticos dentro da Unidade de Polícia Pacificadora.

Amarildo fora visto pela última vez no dia 14 de julho e desde então passou a ser dado como desaparecido.

A versão dos polícias acusados é de que Amarildo foi encaminhado à unidade, no dia 14 de julho, teve seus documentos verificados e foi libertado em seguida.

O facto, no entanto, não pode ser comprovado porque o sistema de câmaras da unidade estava supostamente com uma avaria naquele momento e não captou as imagens.

Ainda de acordo com o inquérito, divulgado hoje pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a intenção dos polícias era obter informações sobre a localização de armas e traficantes localizados na parte da favela onde Amarildo vivia com a sua família.

O resultado do inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que deverá oferecer uma denúncia formal à Justiça nos próximos dias.

O "caso Amarildo" ganhou forte repercussão no Brasil nos últimos dois meses, sendo um tema recorrente durante as manifestações de rua que levaram milhares de pessoas às ruas desde junho.

No Rio de Janeiro, cartazes a dizer "Onde está o Amarildo?" tornaram-se numa forma de recordar a falta de investigação contra os polícias que desrespeitam os direitos humanos.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, Maria do Rosário, elogiou hoje o indiciamento dos polícias e afirmou que isto demonstra o "amadurecimento das instituições", e que agentes do Estado que realizam violações aos direitos humanos não ficam à margem de serem responsabilizados.

A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha foi inaugurada há um ano, como parte da política de segurança pública iniciada em 2008, que prevê a ocupação por forças policiais de territórios antes dominados pelo tráfico de droga.

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