Devia ser muito pior...

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Portugal é o quinto país do grupo europeu com pior prestação no crescimento do PIB face ao último ano de normalidade, antes de a pandemia rebentar de vez com a economia. São más notícias a duas vias. Por um lado, pela fraca capacidade de engrenar a tantas vezes anunciada, mas em muito raras áreas do país real observada, retoma - enquanto a UE e a Zona Euro já estão 4% acima da linha que se verificava antes da pandemia, Portugal mantém só a ponta do nariz fora de água (0,9%). Por outro, entre os únicos quatro países que estão pior do que nós, há dois dos nossos principais parceiros de negócios. As dificuldades de Espanha e Alemanha saírem da crise significam menos compras a Portugal, menos investimento feito aqui, menos dinheiro a entrar.

Num contexto de inflação galopante, que deixou os preços de carne, peixe, fruta, transportes, energia, matérias-primas, etc. brutalmente mais caros, famílias e empresas acumulam dívidas em cima do que ainda têm por pagar dos tempos pandémicos. E no Estado a situação não é melhor.

Portugal continua a acumular uma dívida que é superior em 20% à riqueza que o país é capaz de produzir por ano, o que o obriga a ir muitas vezes buscar dinheiro aos mercados. Uma carga pesada para um país já empobrecido e no qual anualmente se reduz o número de pessoas ativas e capazes de produzir valor. Que se torna mais preocupante quando o tempo das taxas de juros historicamente baixas ficou definitivamente para trás. Com a inflação a disparar à boleia da guerra na Ucrânia e sem corresponder às perspetivas de abrandamento que já deviam sentir-se nesta altura, o BCE não só pôs fim aos programas de compra de dívida dos Estados, como decidiu subir os juros no dobro do que antecipava ser necessário. Por efeito dessa subida de julho (e antecipando-se já outra igual ou de maior vigor para setembro), o custo do financiamento de perto de 28 mil milhões de euros de nova dívida emitida até junho praticamente duplicou, de 0,7% para 1,3% o custo desse empréstimo, relativamente ao ano passado.

Portugal tem um SNS desgastado, rebentado, cujos profissionais são constantemente desrespeitados e acusados de ser a origem dos "problemas pontuais", que "obviamente não são caos nenhum". Portugal tem dificuldades na Educação e por isso decide tratar os professores como corruptos e aldrabões que se usam de esquemas para não fazer o seu trabalho; e substituí-los por quem não tem formação para ensinar, a ver se aprendem. Portugal tem um gravíssimo défice demográfico, mas acredita que tudo se vai resolver com o anúncio de creches gratuitas (mesmo que não haja como as materializar a tempo) e um aumento máximo de 19 euros no abono de família. Portugal continua a discutir novas localizações para um aeroporto que já devia estar pronto a inaugurar, a apostar em projetos energéticos megalómanos que nunca nos deixarão cumprir, nem temos hipótese de concretizar sem financiamento externo.

Mas feitas as contas, como diriam alguns, entre o que os últimos anos de (des)governo estragaram por ideologia bacoca, o que deixaram que apodrecesse no sistema por falta de ação e o que optaram conscientemente por não fazer, podíamos estar muito pior. Aliás, pela lei das probabilidades, devíamos mesmo estar muito pior.

Felizmente, hoje joga o Benfica e até há novas séries a rebentar nos streamings para animar a malta.

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