Deusas em Fúria: Sete mulheres à prova de bala

Considerado o primeiro buddy movie feminino indiano, Deusas em Fúria tem uma energia indestrutível
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"Todas as mulheres têm Kali dentro de si", diz a atriz Anushka Manchanda, uma das três "deusas" indianas que visitaram Lisboa no passado dia 7. Pavleen Gujral completa: "na mitologia Hindu, Kali tem ainda outras faces, Durga e Sarasvati, ou seja, em fúria é Kali, em paz e amor é Durga, e na manifestação criativa é Sarasvati, deusa da música. Da mesma forma, todas as mulheres têm diferentes disposições e é isso que o filme tenta explorar." Falamos de Deusas em Fúria, do indiano Pan Nalin que chegou esta semana às salas portuguesas com sete mulheres a mostrarem a língua - como Kali, na representação mitológica.

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Começámos assim a conversa porque o filme organiza o seu elenco feminino sob a lógica de combate às injustiças sociais na Índia, na qual a ira é uma arma indispensável. São mulheres corajosas, mas igualmente vulneráveis, reunidas numa casa em Goa para celebrar o noivado de uma delas. Pode adivinhar-se aqui uma espécie de O Sexo e a Cidade, mas é preciso alertar que as aparências iludem... Há uma raiz genuína nesta amizade representada, como explica a terceira deusa que marcou presença em Lisboa, Amrit Maghera: "no início não nos conhecíamos; encontrámo-nos nessa adorável villa em Goa, começámos apenas por fazer meditação e exercícios de confiança, e rapidamente desenvolvemos esta inabalável química." Pavleen continua, "além disso, dormíamos mesmo naquela casa, não íamos para hotéis, estávamos o tempo todo juntas!" E Anushka fala-nos da magia local: "cada lugar tem a sua própria energia, e em Goa há muita descontração, o telefone não funciona bem, a internet é má... por isso estás naturalmente desconectada e relaxada. Essa atmosfera também ajudou muito."


Conduzido com leveza, o filme de Pan Nalin alcança um momento fortíssimo, de que nem as atrizes saíram incólumes: "nesse chamado clímax do filme, em que corremos para a praia à procura da Joanna (Amrit Maghera), a situação é real, nós não sabíamos dela há três dias, por isso, toda a desorientação e pânico que são captados é algo que estávamos mesmo a sentir", lembra Anushka com um brilho nos olhos. A emoção da lembrança trouxe mais lágrimas entre as amigas. Amrit, a desaparecida, sublinhou, "a experiência foi terrível, mas nunca senti tanta proteção, como com estas seis mulheres à minha volta!"
Sem tempo para secar bem os rostos, ainda se abordou esse lugar-comum que é Bollywood, apenas no sentido de se desfazerem enganos. "Foi um grande risco, sobretudo porque nos filmes de Bollywood há sempre o herói e a heroína, que são grandes estrelas. Embora algumas de nós sejam conhecidas em Bombaim, comparadas com estes atores somos praticamente desconhecidas. Portanto, a ideia aqui era sermos mulheres reais, sem maquilhagens, com as marcas da pele totalmente visíveis", diz Amrit. Anushka conclui: "Deusas em Fúria projeta a modernidade da mulher indiana, o modo como as coisas mudaram e o que é a realidade dos nossos dias. É nesse ponto fundamental que se afasta da fantasia de Bollywood. A câmara apenas nos seguiu, e isso é fantástico."

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