Deu nega ao país dos cangurus em prol do sonho da Academia
Paulo Costinha foi um guarda-redes acima da média. Começou no Sporting de Braga, rumou ao Boavista com 15 anos e depois disso representou dois dos grandes do futebol português - Sporting e FC Porto. Radicou-se em Leiria, onde está há 17 anos, mas depois do União ainda defendeu as cores do Belenenses.
Atualmente continua ligado ao futebol. "Quando pendurei as chuteiras estive a representar em Portugal uma empresa inglesa de agenciamento de jogadores, mas aquilo era de longe a longe e já tinha projetos meus", confessa o antigo internacional sub-21 antes de explicar ao que se dedica atualmente: "Tenho uma academia de formação em Leiria, mais propriamente no Outeiro da Fonte. Temos a componente de formação, mas também de competição. Sou eu o responsável da Costifoot, mas trabalho com a minha esposa. Depois tenho também uma tabacaria/papelaria junto ao Estádio Municipal de Leiria."
E isto tudo deve-se ao facto de ter fixado residência na cidade do Lis: "Fiquei a viver em Leiria desde 2000. Casei-me e fiquei por cá, estou sedeado aqui há 17 anos. Já estou há mais tempo em Leiria do que em Braga, pois tinha 14 anos quando fui para o Boavista. Sabe... o meu sogro, Vitorino Graça, também é do Norte, da Póvoa do Varzim, e também foi jogador de futebol e ficou por Leiria. Foi mesmo um dos fundadores da União de Leiria, em 1966, e ainda joga na equipa de veteranos."
Sobre a sua academia propriamente dita, a expansão do negócio está pensada com uma escola de guarda-redes, uma área em que Costinha está como peixe na água. "Temos esse objetivo no nosso projeto. Mas é uma coisa que os clubes têm de perceber, que fazemos treino específico e que os miúdos vêm cá durante a semana mas continuam a jogar pelos seus clubes. Não é fácil meter isso na cabeça das pessoas ou dos clubes", sublinha.
Tendo em conta os clubes por onde passou, os treinadores e os colegas com que conviveu, perguntámos a Costinha se o futebol profissional não podia estar a aproveitar melhor o seu conhecimento. "Vou-lhe dizer... sim, eu às vezes penso nisso, mas pronto... já tive convites para o estrangeiro na área do treino de guarda-redes mas há projetos e projetos e eu tenho a minha vida aqui estabilizada junto da minha mulher e dos meus filhos. Deixei de jogar por causa de uma lesão na final da Taça quando defrontei o Sporting pelo Belenenses. Fraturei os ligamentos do tornozelo, estive ano e meio sem jogar. Regresso e recebo uma proposta muito boa de dois anos e meio para ir para a Austrália. Aceitei, mas o pé inchava e eu não quis enganar ninguém, por isso decidi terminar. Optei por me empenhar nos meus projetos", explica Costinha, que desde cedo pensou a longo prazo. "Comecei a preparar o pós-futebol ainda como jogador, sempre tive o sonho de ter uma academia e consegui com muito esforço e dedicação. Estou lá todos os dias, é a minha vida e é o que eu gosto de fazer. Sempre adorei lidar com crianças e ver o crescimento dos meninos e das meninas", confessa.
Convidado a revelar as melhores recordações, Costinha fala da "participação nos Jogos Olímpicos de 1996 e das seis finais da Taça de Portugal". Mas vai mais além: "Fui tetra e penta no FC Porto, venci Taças de Portugal por Sporting e Boavista e ainda uma Supertaça pelo Sporting. Mas... isso já passou."
A saída do Sporting
Costinha assume o seu clube do coração - "sou sportinguista desde sempre" -, mas a saída de Alvalade até hoje é um assunto delicado. "O Sporting queria renovar por oito anos e eu também queria, mas por valores que acompanhassem a inflação. E tinha propostas de Inglaterra. De um momento para o outro proibiram-me a mim e ao Peixe de treinar. O Sporting foi para estágio em Lamego e deram-nos 15 dias de férias. Voltámos e não nos deixaram entrar nem para ir buscar as nossas coisas. Enviámos a rescisão, mas os clubes chegaram a acordo e eu e o Peixe fomos para o FC Porto e o Rui Jorge e o Bino foram para o Sporting. Se fiquei surpreendido? Não, o FC Porto antes já tinha mostrado interesse, o Benfica surgiu a posteriori. Estas trocas deviam acontecer mais vezes", salienta.
A chegada de Baía
Após dois anos nas Antas sem vingar, a tarefa ficou ainda mais complicada quando os dragões conseguem fazer regressar um dos seus símbolos. "Estava lá o Kralj, o Rui Correia e eu no banco. Precisava de jogar. Entretanto, o Vítor Baía regressa e eu percebi que tinha de sair. Estive quase a ir para o Celtic... depois pedi a rescisão, não me queriam dar e eu fui para Tenerife na altura em que o Domingos deixa o clube para voltar ao FC Porto", conta Costinha, hoje com 43 anos.
O marcante Manuel José
Bons treinadores não faltaram a Costinha, que, entre todos, elege talvez o menos óbvio. "Manuel José foi o treinador que mais me marcou. Fui treinado por ele no Boavista e assinei pela U. Leiria devido ao forcing dele. A vida dá muitas voltas, sabe... ele lança-me no Boavista mas eu já o tinha conhecido em Braga quando era iniciado ou infantil. Claro que depois tive o Jesus com aquela maneira dele ser, o Mourinho que tinha aquela abertura com os jogadores, o Bobby Robson também me deixou uma marca, o próprio Fernando Santos...", considera ao desfiar as memórias.