Detido o possível "garganta funda" dos Panama Papers
Assinava com o nome fictício de John Doe, foi o grande informador dos Panama Papers - escândalo que denunciou uma teia de mais de 240 mil entidades offshore - e agora poderá ter sido detido. De acordo com o jornal suíço Le Temps, as autoridades terão detido um funcionário do departamento de informática dos escritórios da Mossack Fonseca em Genebra (Suíça) por suspeita de desviar documentos confidenciais.
O "garganta funda" dos Panama Papers - que eclodiu a 3 de abril pela mão do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) - poderá assim ser o homem que está em prisão preventiva por suspeita de desviar "grandes quantidades" de informação confidencial.
Esta detenção estava, até à hora de fecho desta edição, ainda envolvida numa nebulosa. Citado pela agência noticiosa francesa AFP, o porta-voz do gabinete do Ministério Público (MP) de Genebra, Henri Della Casa, admitiu que "foi aberto um processo-crime na sequência de uma queixa apresentada pela Mossack Fonseca", mas escusou-se a comentar se foi ou não feita uma detenção.
No entanto, o próprio The Guardian levanta dúvidas sobre o propósito da prisão, já que o jornal alemão Süddeutsche Zeitung (que recebeu os documentos num primeiro momento e os distribuiu através do consórcio) acredita que o detido não é a fonte do jornal. "Segundo as informações que temos o detido não é John Doe", disse em declarações ao The Guardian o jornalista Bastian Obermayer, que liderou a investigação da parte do Süddeutsche Zeitung.
De acordo com fontes próximas do processo, citadas pelo Le Temps - o funcionário da Mossack que estará detido tem negado todas as acusações que lhe são feitas e que incluem "extração ilegal de dados", "abuso de confiança" e "acesso não autorizado a um sistema de Tecnologias de Informação".
Neste momento estão ainda em curso peritagens técnicas para esclarecer se o detido tirou mesmo dados indevidamente da Mossack Fonseca e, caso se confirme, que tipo de dados e em que período.
Mesmo o próprio diário suíço Le Temps destaca que não há ainda nada que prove que o detido seja John Doe. Pode ser um cúmplice ou até o responsável por outra fuga de informação paralela ao grande denunciante do caso.
Os Panama Papers (mais de 11,5 milhões de documentos) foram revelados a 3 de abril deste ano, denunciando a forma como chefes de Estado, políticos, criminosos, celebridades, multimilionários e estrelas do desporto usaram paraísos fiscais (offshores) para "lavar dinheiro", esconder património e fugir aos impostos.
Por detrás desta gigantesca fuga de informação esteve um homem, que assina como John Doe e em maio fez um comunicado. Num documento enviado ao jornal Süddeutsche Zeitung, John Doe afirmou não ter nenhuma ligação profissional a governos nem às secretas de nenhum país. "O meu ponto de vista é apenas meu".
John Doe elogiou ainda o "novo e encorajador debate global" acerca da legalidade das offshores e das empresas de fachada e daquilo que se pode, secretamente, fazer usando esses meios. "Aquilo que é legal é escandaloso (...) e tem de mudar".
O denunciante afirmou ainda, no mesmo manifesto, que decidiu divulgar os documentos devido à "escala das injustiças" e lembrou que "a desigualdade de rendimentos é um dos assuntos que definirá os nossos tempos".