Detenções, pilhagens e violência após vitória contestada de Bongo
A capital do Gabão, Libreville, está mergulhada no caos desde que na quarta-feira à tarde foram divulgados os resultados das presidenciais. 5594 votos apenas separam os rivais Ali Bongo e Jean Ping, atual presidente do país e o principal candidato da oposição. O primeiro teve 49,8% e o segundo 48,23%, num universo de 627 805 eleitores, num país com 1,8 milhões de habitantes e rico em petróleo.
Na noite de quarta-feira o Parlamento foi incendiado por manifestantes que saíram à rua em protesto contra a reeleição de Bongo, que sucedeu, em 2009, ao pai. Omar Bongo esteve no poder durante 42 anos. O acesso à internet foi suspenso. Por volta da meia-noite, a guarda republicana interveio e tomou a sede de campanha de Jean Ping, diplomata afro-chinês que no passado foi várias vezes ministro de Bongo pai.
"Cerca da 01.00, a sede foi bombardeada por helicópteros e cercada por tropas da guarda presidencial, a polícia e mercenários", explicou Jean Ping, por telefone, à RFI. "A oposição ganha sempre as eleições, mas nunca chega ao poder por causa dos mesmos procedimentos que são usados pela família que há 50 anos confisca o poder. Há 50 anos que no Gabão o poder está nas mãos de uma família e de um clã", prosseguiu o ex-presidente da Comissão da União Africana. À Reuters Ping garantiu que os números da comissão eleitoral são fraudulentos. O diplomata, que afirma ter havido dois mortos no ataque à sua sede, pediu proteção internacional para a população civil contra o que diz ser "um Estado pária".
A partir do Palácio Presidencial, Ali Bongo negou responsabilidades na violência e considerou a oposição como "um grupúsculo cujo projeto é tomar o poder para se servir do Gabão e não para servir o Gabão".
O comandante da polícia gabonesa disse que tinham sido detidos 200 autores de pilhagens na capital. Em declarações à AFP, Jean-Thierry Oyue Zue deu conta de seis polícias feridos e admitiu haver civis feridos "dada a violência". O ministro do Interior, Pacôme Moubelet-Boubeya, confirmou a existência de três mortos. Fotografias divulgadas pela AFP mostravam pessoas a pilhar lojas e a fugir pelas montras.
O Ministério do Interior falou num milhar de detenções em todo o Gabão e o gabinete do presidente Ali Bongo apontou o dedo à oposição. Num comunicado, citado pela Reuters, o rival do chefe do Estado, Jean Ping, é acusado de planear "ataques coordenados aos símbolos do Estado". Na nota divulgada lê-se ainda: "Estes não são protestos mas atos coordenados com o propósito de semear o medo entre os cidadãos que eles consideram que votaram de forma errada."
Perante este cenário de instabilidade neste país da África Central, a comunidade internacional lançou apelos à calma e exigiu a verificação dos resultados eleitorais em todas as assembleias de voto. O presidente francês, François Hollande, "condenou a violência, as pilhagens, as ameaças e os ataques a apoiantes dos principais candidatos".
A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, considerou que a confiança nos resultados "não pode ser restaurada sem que haja uma verificação transparente, em cada assembleia de voto". O mesmo exigiram os EUA.
O vice-presidente da União Africana, Erastus Mwencha, disse esperar que "a escalada de violência seja travada e não ponha em perigo a paz e a estabilidade do país". A eurodeputada Cécile Kyenge, da missão de observadores do Parlamento Europeu, declarou ao Jeune Afrique que "Ali Bongo deve rever a sua posição, ser corajoso e renunciar aos resultados proclamados. Aceitar estes resultados é trair África".