Detenção de herdeiro da Samsung antecipa queda de presidente Park
A prisão efetiva do atual vice-presidente e líder de facto da Samsung, Lee Jae-yong, constitui novo revés para a chefe do Estado sul-coreana Park Geun-hye, cujo processo de destituição do cargo decorre no Tribunal Constitucional. A presidente Park é acusada de ter permitido que a sua confidente, Choi Soon-sil, se imiscuísse em questões governamentais sem deter qualquer cargo oficial e também de cumplicidade nas pressões da amiga junto de empresas nacionais para obter donativos para as suas fundações.
Em contrapartida dos donativos, Choi utilizaria a sua proximidade com a presidente Park para facilitar a criação e aprovação de leis favoráveis aos interesses dos grandes conglomerados (chaebols) sul-coreanos, como a Samsung. Choi está a ser investigada por tráfico de influência, corrupção passiva e intromissão em assuntos do Estado.
A prisão do líder da Samsung, acusado de corrupção ativa, resulta da suspeita de ele e a própria empresa terem feitos donativos às fundações de Choi, no valor equivalente a cerca de 37,5 milhões de euros, para abrir caminho a uma controversa fusão, em junho de 2014, da Samsung com a C&T Industries. Segundo acionistas desta empresa, que opera no setor da eletrónica e ainda no químico, a fusão não passou de um golpe da Samsung, tendo o valor das ações sido deliberadamente subvalorizado. Ainda assim, o governo autorizou a fusão.
O argumento empregue agora pelo tribunal para justificar a detenção de Lee, que já fora alvo de pedido idêntico em janeiro pela procuradoria, foi a existência de risco de destruição de provas e de possível fuga para o estrangeiro do líder da Samsung. Lee é agora também acusado de suborno e de perjúrio na comissão da Assembleia Nacional que investiga o escândalo.
A prisão de Lee coincide com o fim próximo das audiências no Constitucional sul-coreano, que terminam na próxima semana, o que só por si representam um outro revés para Park, atualmente suspensa de funções. Os seus advogados têm recorrido a múltiplas táticas dilatórias desde o início do julgamento em dezembro, quando a Assembleia Nacional votou a autorização do processo de destituição, que levou a juíza presidente, Lee Jing-mi, a marcar para quinta-feira 23 a apresentação dos argumentos finais da defesa e da acusação. A decisão será anunciada dentro de duas semanas.
Ainda em mais um golpe para a presidente suspensa, ficou a saber-se na quinta-feira que Park e a sua confidente, entre abril e outubro de 2016, estiveram ao telefone 573 vezes, quando Choi era já suspeita e outras 127, quando esta última procurou refúgio na Alemanha na fase inicial da investigação. Acabaria por voltar à Coreia do Sul em finais de outubro de 2016. Segundo o Chosun Ilbo, um dos mais influentes diários do país, o conteúdo das conversas - três por dia em média - deita por terra um dos pilares da defesa de Park, que sempre argumentou ter sido manipulada por uma pessoa que conhecia desde os anos 70. Detalhes relevantes: as chamadas foram feitas a partir de telemóveis que estavam sob nomes falsos e as últimas sucederam a 26 de outubro, um dia depois de Park ter pedido desculpas aos sul-coreanos numa intervenção televisiva. A investigação considera que as duas mulheres procuraram acertar uma estratégia e a presidente teria dito à amiga para voltar a Seul. Choi fê-lo três dias depois.
[artigo:5478713]