Desvio do trânsito é a melhor solução para o Mosteiro da Batalha

Colocação de barreiras de betão frente ao monumento está a causar contestação. Autarquia e direção-geral lembram que o cimento vai ficar tapado por vegetação e concordam que desvio do trânsito é a melhor solução.
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Câmara da Batalha e Direção-Geral do Património Cultural alinham pela mesma solução: o desvio do trânsito é a melhor forma de proteger o Mosteiro da Batalha do ruído provocado pelos 14 mil carros que diariamente passam em frente ao monumento classificado como Património Mundial pela UNESCO. Não sendo possível avançar com essa solução a curto prazo e por forma a evitar os danos que o ruído está a provocar no mosteiro, a autarquia decidiu avançar com uma solução que passa pela implantação de um jardim vertical.

A colocação das barreiras junto ao IC2 defronte do Mosteiro da Batalha começou neste mês e está a ser contestada, com populares a defenderem antes a isenção de portagens na autoestrada 19 (A19). "A exigência que estava sobre nós era a proteção do monumento. Uma vez que não é possível tirar trânsito da frente do mosteiro, a solução que defendemos, porque há uma concessão da A19 por várias décadas e, segundo o governo nos diz, não se perspetiva a curto prazo o levantamento das portagens, decidimos avançar com esta solução", explicou ontem ao DN Paulo Batista Santos, presidente da Câmara Municipal da Batalha.

Questionada sobre se esta é a solução mais adequada para os problemas que o ruído dos automóveis está a provocar no mosteiro, Paula Silva, diretora-geral do Património Cultural, responde sem hesitação: "Não, a solução adequada passa por uma situação muito mais complexa do desvio da estrada. Mas enquanto isso não é feito, não há problema nenhum em que se façam estas barreiras." Uma intervenção que, sublinha, "é reversível". O mesmo diz o responsável autárquico, que, apesar de afirmar que está confiante nesta solução técnica, adianta que, se for preciso, "retificam".

"O que queremos é preservar o mosteiro, porque hoje temos sinais evidentes de que os vitrais estão a partir-se e as pedras estão a cair. Portanto, há que fazer alguma coisa", destaca Paulo Batista Santos, numa referência aos estudos realizados em 2014 pelo Instituto Politécnico de Leiria. "Em relação às medições feitas nos vitrais do octógono da Capela do Fundador, é de referir que a maior parte dos vitrais necessita de reparação da argamassa de fixação aos caixilhos. O seu estado através da inspeção visual apresenta variadas fissuras e desprendimento da estrutura do caixilho", lê-se nas conclusões do estudo.

Face a este diagnóstico, a autarquia procurou uma solução que minimizasse os efeitos do ruído no monumento. "Foram ponderadas outras soluções do ponto de vista da proteção acústica. Foi encontrada esta, bastante inovadora, que são jardins verticais", explica o autarca. "Aliás", refere ainda, "a intervenção na área frente ao mosteiro é apenas 25% da zona de intervenção, que se alarga a toda a zona envolvente do mosteiro com a plantação de mais de dez mil plantas, entre flores e árvores, num projeto que visa requalificar os jardins do mosteiro que estavam ao abandono há várias décadas".

E sublinha: "Esta solução foi ratificada e acompanhada pela Direção-Geral do Património Cultural, foi revista e analisada pela União Europeia, visto que é um projeto apoiado por fundos comunitários, e teve a coordenação da Câmara Municipal da Batalha, que é a entidade elegível para efeitos dos fundos." A obra, que deverá estar finalizada em fevereiro, envolve um investimento superior a 577 mil euros, suportado a 84% pela União Europeia.

Ziguezague do PS

Tanto Paulo Batista Santos como Paula Silva lembram ainda uma resolução da Assembleia da República, de 14 de dezembro de 2014, aprovada por unanimidade, que "recomenda ao governo a concretização de medidas que minimizem os impactos ambientais do ruído gerado pelo tráfego de veículos sobre o Mosteiro da Batalha".

Quase dois anos depois, em outubro de 2016, os deputados socialistas José Miguel Medeiros, António Sales e Odete João, eleitos por Leiria, questionaram o ministro do Planeamento e das Infraestruturas sobre as razões que estavam a inviabilizar a construção das barreiras acústicas de proteção do mosteiro, uma vez que, como referem, a câmara tinha já o projeto concluído e o respetivo financiamento assegurado. No entanto, na segunda-feira, após o início dos trabalhos, os três parlamentares do PS agora em funções na Assembleia da República (Margarida Marques, António Sales e José Miguel Medeiros) questionaram o governo sobre a eventualidade de as barreiras em colocação defronte do Mosteiro da Batalha colocarem em causa a classificação da UNESCO.

Paula Silva responde, mais uma vez, sem hesitações: "Esta obra não põe em causa a classificação da UNESCO, é completamente reversível." Por seu lado, Paulo Batista Santos sublinha o contributo decisivo dos deputados do PS - "e outros que aprovaram a resolução de 2014 da Assembleia da República" - "porque só com a ajuda deles foi possível avançar com esta solução", refere, aludindo à pergunta enviada ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas em outubro de 2016, tendo o projeto recebido aprovação da DGPC no mês seguinte.

[Notícia retificada às 12.55]

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