Destruição de mesquita de Mossul marca colapso do ISIS

Foi neste templo que o líder do grupo islamita proclamou o califado em julho de 2014. A cidade fora conquistada no mês anterior. Bagdad acredita que fim da resistência está iminente.
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Ofensiva sobre Raqqa, onde as Forças Democráticas Sírias (FDS) já penetraram em algumas secções do perímetro urbano da autoproclamada capital do Estado Islâmico (EI ou ISIS, sigla em inglês); pressão sobre a outra cidade que o grupo islamita ainda controla na Síria, Deir Ezzor, além de Palmira e região circundante. Os islamitas enfrentam ataques nas cidades de Tal Afar e Hawija, no Iraque, e a derrota anunciada em Mossul, que o ISIS tinha sob controlo desde junho de 2014 e onde o seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou o califado jihadista a 4 de julho seguinte.

O EI recua ou está na defensiva em todas as frentes de combate no terreno e a destruição da histórica mesquita de Al-Nuri, em Mossul, na noite de quarta para quinta-feira evidencia a nova realidade. E tem profundo significado simbólico: foi na mesquita de Al-Nuri, edificada no início do último quartel do século XII em homenagem a Nur ad-din al-Ranki (adversário dos cruzados), que Baghdadi anunciou a criação do califado e uma bandeira do EI estava hasteado no topo do minarete, célebre pela sua inclinação. O minarete era afetuosamente designado como Al-Hadba, "o corcunda", pelos residentes da cidade.

"Fazerem explodir o minarete Al-Hadba e a mesquita de Al-Nuri equivale a reconhecerem a derrota", escreveu o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, na sua página oficial. Um vídeo circulava nas redes sociais mostrava o momento do colapso do minarete, criando uma nuvem de poeira. A destruição do complexo sucedeu durante o período mais sagrado do Ramadão, os últimos dez dias do mês sagrado para os muçulmanos.

Analistas, citados pela Reuters, consideram que a destruição da mesquita indica que os elementos do ISIS já não tem capacidade para resistirem ao avanço das forças de Bagdad. De facto, neste momento só controlam a parte velha de Mossul, e a destruição de al-Nuri pode virar-se contra eles. O edifício, pelo valor histórico, forçava as unidades iraquianas a cuidados particulares para não o atingirem. Agora desaparecido, é menos um obstáculo para a condução das operações militares.

Raqqa e resposta dos islamitas

Em paralelo com a derrota iminente em Mossul, após quase nove meses de combates que se iniciaram em outubro de 2016, as milícias árabes e curdas, que integram as FDS, avançam sobre Raqqa, tendo conquistado um subúrbio no sudoeste da cidade. Raqqa tem sido constantemente bombardeada pela coligação internacional que combate o EI e está quase totalmente cercada. Fontes militares russas, citadas ontem pela agência RIA, sugeriam que Baghdadi tinha abandonado Raqqa, procurando refúgio numa área da fronteira sírio-iraquiana. Por seu lado, o Pentágono pensa que, com a intenção de preservar capacidades operacionais, parte da liderança islamita e de recursos humanos e materiais teria sido retirada daquela cidade.

Se a situação no terreno se apresenta claramente desfavorável - ainda que se antecipe longa resistência em Raqqa, à semelhança do sucedido em Mossul -, analistas do Institute for the Study of War (ISW) referiam recentemente que o EI tem ainda condições para lançar operações quer na Síria quer no Iraque. E tem-no feito ao longo do mês de junho. Num texto intitulado ISIS' Global Campaign Remains Intact (A Campanha Global do ISIS Permanece Intacta), as analistas seniores Jennifer Cafarella e Melissa Pavlik realçam que o grupo islamita foi capaz de realizar um duplo ataque terrorista no Irão, o principal aliado do regime de Damasco em conjunto com a Rússia, e continua a ter capacidade de influenciar indivíduos para realizarem ações em países como o Reino Unido. O apelo da sua propaganda mobiliza ainda jihadistas em outros países não muçulmanos, procurando criar tensões entre as comunidades locais e os seguidores desta religião.

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