Destroços de avião da Air France eram lixo

Tribunal de Paris anunciou abertura de investigação por "homicídio involuntário" enquanto as famílias das vítimas trocam o Rio pelo Recife para estarem mais perto da área de buscas.
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Não mais um voo 447. A Air France decidiu que, a partir de amanhã - uma semana após a tragédia - , o voo que faz a ligação entre o Rio e Paris passa a denominar-se AF445. Uma decisão anunciada quando os familiares das vítimas e a companhia aérea têm de interiorizar uma informação desencorajante: os destroços encontrados no Atlântico não são do voo 447 mas apenas lixo. Até a mancha de óleo que indiciava ausência de explosão do Airbus poderá não passar de uma descarga feita por um qualquer petroleiro.

"Má notícia" foi como Dominique Bussereau, secretário de Estado dos Transportes francês, classificou a revelação de que não se tratava de destroços do avião que, na madrugada de segunda-feira, se terá despenhado no Atlântico com 228 pessoas a bordo.

O responsável de Paris voltou a insistir na necessidade de se manter uma "extrema prudência" ao lidar com a situação. E, embora reconheça terem sido os brasileiros quem afirmou que os destroços eram do avião, minimizou o erro, explicando que também eles, a braços com vítimas, "partilham da mesma dor" e querem encontrar respostas rápidas.

"Não, nenhum material do avião foi recolhido", afirmou o porta-voz militar brasileiro, general Ramon Borges Cardoso, depois de terem retirado da água do mar uma peça de 2,5 metros quadrados que se julgava ser um contentor de acomodação de bagagem do Airbus.

Entretanto, as buscas prosseguem apesar das más condições atmosféricas que se registam na área onde se terá despenhado a aeronave. E a França, decidida em encontrar as caixas negras do avião - instrumentos importantes para se saber o que de facto aconteceu - decidiu enviar para o local um submarino nuclear de ataque.

"Graças aos seus sistemas de detecção o submarino poderá ajudar a recuperar as caixa negras", disse o ministro da Defesa francês. Hervé Morin avançou que a investigação em curso tem em conta todas as hipóteses, incluindo a de atentado.

Entretanto, o Tribunal de Paris anunciou a abertura de uma investigação por "homicídio involuntário" sobre o desaparecimento do avião. A investigação não é dirigida a um sujeito concreto, esclareceu o tribunal em comunicado, onde informa ainda que a Procuradoria de Paris já notificou, através de carta, as famílias de cada uma das vítimas sobre este procedimento penal.

Os primeiros elementos da investigação em curso pelas autoridades francesas indiciam que problemas na velocidade do avião terão estado na origem do seu desaparecimento. De acordo com o diário Le Monde, essa velocidade "incorrecta" para uma zona de forte turbulência, terá mesmo levado o Airbus a partir-se a meio em pleno voo.

E enquanto não se encontram os destroços, nem os corpos, um grupo de familiares das vítimas decidiu deixar o Rio e ir para o Recife para, defendem, estarem mais perto do local onde estão a decorrer as buscas.

"Queremos ir ver como avançam as operações de busca, como estão a ser feitas, é importante para nós podermos ver", disse Nelson Farias Marinho, pai de uma das vítimas, que deseja ir para a ilha de Fernando de Noronha para estar o mais perto possível do local da catástrofe. Como se a sua presença pudesse, de alguma forma, ajudar a encontrar os que perderam. Como se essa proximidade os ajudasse a entender melhor a tragédia e a fazer o luto.

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