Carlos Sá entre as areias do Sara e o gelo da Gronelândia
Entre abril e maio de 2016, Carlos Sá vai passar dos quase 50 graus que pode atingir o pico do calor no deserto do Sara para os 30 a 40 graus negativos até aos quais costuma baixar o mercúrio no dos termómetros na Gronelândia naquela altura do ano.
Para o ultramaratonista português, habituado às provas e situações mais extremas, estes são os dois grandes desafios marcados no calendário.
E se no caso da Maratona das Areias, em Marrocos, se trata já de uma visita frequente - será a sexta participação na prova de 250 km pelas areias do Sara, onde obteve as melhores participações em 2012 e 2014, com dois quartos lugares -, no cenário gelado da ilha do Ártico, Carlos Sá vai estrear-se à conquista de um sonho já com alguns anos.
A estreia na travessia da Gronelândia esteve prevista já para este ano de 2015, mas o atleta de Barcelos, de 42 anos feitos na véspera de Natal, abortou a aventura por não se sentir preparado para a exigente experiência de 800 km.
"É um desafio arrojado, que já está a ser preparado há algum tempo, mas é isto que eu procuro. Era para o ter feito este ano, mas senti que não estava preparado ao nível físico e da logística. Desta vez vai mesmo ser. Arranca a 19 de maio", anunciou Carlos Sá em outubro passado.
Na aventura, cujo tempo estimado de conclusão ronda os nove a dez dias, Carlos Sá vai estar acompanhado por outro português e dois noruegueses, entre os quais Harald Hauge, que já cumpriu este percurso 12 vezes.
A travessia vai ser feita em esqui, a puxar um trenó e em total autonomia, apenas com um telefone de satélite e um localizador de GPS, em caso de emergência. Carlos Sá enumera os perigos para os quais se tem preparado: "Esta é uma região onde podem nevar dois metros de neve por dia, ter ventos entre 200 e 300 quilómetros por hora e onde existe uma grande comunidade de ursos." Ora, por isso, "durante as três a cinco horas em que se pode dormir tem de ficar sempre, à vez, um dos aventureiros de vigilância, com uma arma, para se proteger dos ursos".
Isto, relembre-se, um mês depois de enfrentar aquela que é conhecida como "a caminhada mais difícil da Terra", no Sara marroquino (10 a 15 de abril), perante uma amplitude térmica que pode ir dos 0 aos 50 graus e para onde não se pode esquecer de levar um kit antiveneno para cobras e escorpiões.