Desoligarquizar por aí

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A Ucrânia não vive apenas uma fase pós-revolucionária com implicações geopolíticas, está a braços com o dilema irreformista que a acompanha desde a independência. Parece mais ou menos evidente que, apesar de estar já em vigor um acordo quase total de livre comércio com a UE e de a elite governante em Kiev estar comprometida com o roteiro de adesão, a Rússia conseguiu congelar o conflito no Leste e com isso garantir um direito de veto sobre as transformações constitucionais ucranianas. O estado da sua economia também não contribui para estabilizar o sistema político, depois de o PIB ter contraído 12% em 2015, de a produção industrial ter caído 10%, de a moeda ter desvalorizado 70% e de a inflação andar nos 40%. A intervenção do FMI e da UE têm o condão de obrigar o Estado a reformar-se de alto a baixo, mas o retrato não é animador. No início deste mês, o ministro da Economia pediu a demissão alegando a impossibilidade de fazer reformas blindadas à corrupção, nepotismo e obscurantismo financeiro. A gota de água foi a pressão que sofreu do círculo do presidente Poroshenko para colocar protegidos no governo e nas grandes empresas públicas, vício que alimenta uma competição com outros oligarcas afetos ao governo de Iatseniuk e ainda os que procuram uma autonomia política, caso do ex-governador de Dnipropetrovsk, Ihor Kolomoisky. Esta tentativa de continuar a politizar a administração pública e judicial tem também contribuído para a baixa popularidade de todos estes políticos, o que pode conduzir a eleições num horizonte próximo. Os outros fatores do desacerto ucraniano são o lamentável estado da oposição e o adiamento da descentralização administrativa. A Ucrânia continua sem "desoligarquizar" o Estado, o que não só a aproxima mais de Moscovo do que de Bruxelas como a condena a ciclos revolucionários intermitentes. Em 25 anos já vai no terceiro.

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