Desfile de festa e críticas na 'Queima' de Coimbra

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"Línguas perdidas", assim se chamava um dos carros da Faculdade de Letras, no cortejo da Queima das Fitas, ontem, em Coimbra. É assim designado porquê? "Já só tenho de litro e meio", responde, ao DN, uma das estudantes. Não se pedia coca-cola, mas uma explicação para o nome da viatura. A "passageira" não sabe, mas, solícita, questiona algumas colegas. Em vão. E na falta de uma resposta, oferece uma cerveja.

O desfile, lento, desce a Avenida Sá da Bandeira. À frente, antigos estudantes, logo seguidos por um carro de quartanistas de Medicina, como manda a tradição. Depois Direito, identificado pelo vermelho das suas flores de papel, uma balança e alusões aos códigos civil e penal, sem qualquer comentário.

"A educação nunca foi uma prioridade para os últimos governos", denuncia, numa folha A4, entre flores azuis claras, um veículo de Matemática. Feitas as contas, são baixas as percentagens dos estudantes que chegam ao fim dos respectivos cursos, conclui um gráfico só perceptível à lupa.

Alguns metros abaixo, na Praça 8 de Maio, muitas centenas de pessoas continuam à espera do cortejo, que começou às 15.00. Cacilda, de 62 anos, está ali desde então, mas vai regressar a casa, em Torres do Mondego, sem ver um único carro. "Já perdi o autocarro das seis e meia e agora tenho de apanhar o das sete e meia, que é o último", lamenta.

Pior é, no entanto, para quem tem jovens familiares que viajam nos mais de 90 carros alegóricos do cortejo. Eles merecem o aplauso de família e amigos, mas a prolongada espera começa a sugerir algum desalento. "Quando aqui chegarem, já não há luz para as fotografias", queixa-se Maria José. "Só se formos lá acima", sugere. "Aí não dá", reage o marido, que quer o melhor "enquadramento" para a filha e seu carro.

A festa também é, segundo a praxe, tempo de crítica e contestação, mas estas ficaram quase reduzidas à acção da direcção da Associação Académica. No largo de onde partiu o cortejo, uma faixa exige "paridade dos estudantes nos órgãos de gestão" da Universidade. E um panfleto, com a caricatura de Seabra Santos, apelidada de "reitor polícia", aludindo à intervenção policial, por si solicitada, para dispersar uma manifestação de estudantes, em Outubro, no campus universitário, contra o valor (máximo) das propinas, então fixado.

As propinas continuam a ser o principal motivo de contestação. Por causa do seu valor e da referida intervenção policial, o reitor foi "desconvidado" da festa e não compareceu na tribuna de honra (onde, habitualmente, assiste ao desfile), conforme, aliás, o próprio já havia anunciado.

Os estudantes, por seu lado, prometem manter a luta para já, com uma manifestação, em Coimbra, no dia 19.

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