Desconhecimento afasta empresários alemães de Portugal
Em entrevista à agência Lusa a propósito das eleições legislativas alemães, agendadas para o próximo dia 22, Bernardo Meyrelles afirmou que "o principal problema de Portugal é mesmo a falta de notoriedade junto dos empresários alemães, porque as empresas que estão cá e nos conhecem estão satisfeitas com o investimento que fizeram em Portugal".
Para o também presidente do Deutsche Bank Portugal, "quando questionados sobre as valências de Portugal, as respostas recebidas dos empresários alemães num estudo que a CCILA fez revelavam muito pouco conhecimento sobre as valências, e quando eram apontadas, passavam pelas áreas mais tradicionais, como o sol e a praia, e muito poucas respostas incidiam na tecnologia, na investigação, nos centros de serviços, enfim, no Portugal mais moderno".
Segundo este empresário, as áreas que melhor casam o que Portugal tem para oferecer e o que os empresários alemães podem querer passam pela Investigação & Desenvolvimento, tecnologia e pela prestação de serviços através de 'service centers', até porque, em média, "colocar estes serviços em Portugal custa cerca de um terço do que custaria na Alemanha, devido ao custo de vivência e ao preço da mão de obra qualificada".
A aposta, conclui, tem de passar pela promoção, mas não uma ação de promoção genérica: "A concorrência de África, da Ásia, da América Latina e dos países do leste europeu obriga a que haja uma promoção muito cuidada e estrategicamente diferenciada, coisa que ainda não estamos a fazer, e por isso não há um aumento da notoriedade e da aceitação do reconhecimento por parte dos empresários alemães, a não ser o que já cá estão, e esses reconhecem o esforço e as medidas tomadas para aumentar a competitividade, que aliás estão a resultar", afirma Bernardo Meyrelles.
Do ponto de vista político, as eleições alemãs devem terminar com a vitória de Angela Merkel, e isso "é positivo" para Portugal por duas razões: "primeiro porque ganhamos um horizonte temporal maior através de um novo ciclo de quatro anos - há muitas decisões que exigem tempo - e isso é benéfico porque deixa de haver tanta urgência que se verifica com o aproximar do fim de um ciclo", diz o presidente da câmara de comércio.
Por outro lado, acrescenta, um novo mandato permite "recentrar o foco da discussão sobre as questões da Europa, porque é normalmente aceite e entendível que durante uma campanha eleitoral se discutam mais os temas nacionais".
A Alemanha, assegura, está muito interessada no projeto europeu e na manutenção de todos os seus membros numa perspetiva de integração e não de segregação: "Não se anteveem grandes mudanças no futuro em termos de políticas e atitude", prevê o empresário.
Meyrelles sublinhou que "a Alemanha respeita muito a forma como temos atravessado este período de crise, e sentiu-se muito preocupada quando, há cerca de dois meses, atravessámos uma crise política da qual soubemos sair bem, e até mais estáveis, e reconhecem o nosso mérito, por isso vão continuar a dar-nos todo o apoio político e vão continuar a interessar-se por nós e pelo projeto europeu".