Descobriram o ponto continental mais profundo da Terra. Fica na Antártida Oriental

É o equivalente ao Grand Canyon só que fica 3,5 km abaixo do nível do mar. A descoberta científica, sob o glaciar Denman, só foi possível ao utilizar várias técnicas de mapeamento de última geração.
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Cientistas da Universidade da Califórnia estavam a mapear a área do glaciar Denman, na Antártida Oriental, quando descobriram que o vale por debaixo deste glaciar era muito mais profundo do que imaginavam.

A imagem que descrevem é a de uma topografia idêntica ao Grand Canyon, no estado norte-americano do Arizona, e que permitiu elaborar um novo mapa da Antártida Oriental. Fica 3,5 km abaixo do nível do mar, mas não tem água do oceano, o que se vê é uma manta de gelo, que flui do interior em direção à costa.

Tem uma extensão de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de largura, de acordo com este novo estudo, apresentado num encontro da União de Geofísica Americana, em São Francisco, posteriormente explicado num resumo do estudo.

Refira-se que a área continental menos exposta do planeta Terra, na costa do Mar Morto, fica a apenas 413 metros (1.355 pés) abaixo do nível do mar.

Mathieu Morlighem, professor associado do departamento de Ciências do Sistema Terrestre da Universidade da Califórnia em Irvine, líder do projeto, ilustrou sem esconder o entusiasmo, segundo a CNN: "É maior que os EUA e o México juntos".

Morlighem e sua equipa usaram uma nova tecnologia chamada BedMachine e foi o facto de não estavam a obter o resultado esperado que os levou à descoberta. A técnica consiste no desenvolvimento de um modelo de manta de gelo de nova geração e que permite mapear as áreas dos glaciares.

"Após meses de investigação, percebemos que não estávamos a conseguir mapear a área porque a topografia do leito sob o gelo estava a perder características importantes, como vales, cordilheiras, etc.", explicou o cientista.

E porquê? Porque a área que tentavam mapear era tão grande que se tornava impossível. Tiveram então de combinar vários procedimentos, como medições de radar, dados sobre o movimento de superfície de alta precisão de satélites e da acumulação de neve, bem como modelos climáticos regionais, para obter uma estimativa da dimensão do que tinham encontrado.

"Aplicámos essa técnica de mapeamento em toda a camada de gelo e descobrimos um vale muito profundo escondido por debaixo da camada de gelo", disse Mathieu Morlighem. Acrescentou que o principal desafio foi reunir toda a informação disponível, por exemplo, as pesquisas de radar realizadas por diferentes instituições e em diferentes países.

Efeitos das alterações climáticas

Mas cientistas não descobriram, apenas, as cordilheiras nas montanhas transantárticas, a geleira Denman, mas também outras gelerias que alimentam a plataforma de gelo Ronne e que, segundo Morlighem, "parecem ser mais vulneráveis ​​do que pensávamos", o que significa que as mudanças climáticas podem afetar a região.

"Temos de monitorar essa geleira com cuidado. Se a sua linha de aferramento - onde o gelo começa a flutuar - começa a recuar neste profundo canyon, pode recuar rapidamente e o leito subir novamente, levando a um aumento significativo do nível do mar. O que significa que este poderá ser um dos setores mais vulneráveis ​ da Antártica Oriental, que detém significativamente mais gelo que a Antártica ocidental ", ilustrou.

As boas notícias são que as principais geleiras que fluem através das montanhas transantárticas e através da Terra Victoria são protegidas por cristas topográficas amplas, estabilizadoras e próximas às suas linhas de aferramento, que refletem o relevo topográfico circundante

"Essas cordilheiras eram desconhecidas e tornam esse setor da camada de gelo extremamente resistente ao aumento do derretimento induzido pelo oceano". Em outras palavras, disse Morlighem, "se a plataforma de gelo Ross [a maior plataforma de gelo da Antártida, a segunda a de Ronne] se desestabilizar, isso não deve levar ao colapso da Antártida Oriental".

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