"Encontrámos uma pequena colónia de oito indivíduos na tapada, o que foi uma agradável surpresa. É uma espécie muito rara na Europa", afirmou à agência Lusa o especialista Hugo Rebelo, que coordena uma investigação sobre morcegos na Península Ibérica para o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), da Universidade do Porto..O especialista explicou que o "morcego de Bechstein" está confinado à Europa Ocidental e Central e habita florestas centenárias, com espécies arbóreas nativas.."As florestas nativas europeias têm sido desbastadas ao longo de séculos, por isso é natural que qualquer espécie dependente desse habitat esteja em declínio", adiantou..Para o investigador, a existência desta colónia de morcegos em perigo de extinção "é um indicador" de que a tapada mantém a sua biodiversidade.."São animais bastante sensíveis, portanto se houvesse grandes alterações de habitat, um uso abusivo de pesticidas e outros fatores que modificassem drasticamente os ecossistemas, como a qualidade da água e a própria paisagem, esta espécie seria das primeiras a desaparecer", esclareceu..Em Portugal, onde se investiga morcegos desde 1987, esta espécie foi capturada apenas três vezes, tendo a penúltima ocorrência sido registada há mais de dez anos. .A última descoberta, ocorrida na Tapada de Mafra, surgiu no âmbito de uma monitorização das espécies de morcegos aí existentes pelo grupo de dez investigadores do projeto do CIBIO e vai ser dada a conhecer à comunidade científica nas Jornadas Quiropterianas, a 26 de outubro em Sintra..Além do "morcego de Bechstein", foram também identificadas em Mafra outras duas espécies ("morcego rato grande" e o "morcego de franja"), que elevam para uma dúzia as espécies de morcegos existentes na tapada.."Estas novas espécies são emblemáticas. Uma delas tem a sua distribuição restrita à Península Ibérica. É um morcego ibérico, o que é raro. A outra está associada à Península Ibérica e norte de África", referiu Hugo Rebelo..O biólogo acredita que mais espécies de morcegos podem ainda vir ser encontradas na tapada e que há potenciar para diversificar os produtos turísticos daquele espaço, com a criação, por exemplo, de ações noturnas de observação e audição de morcegos ou visitas a abrigos desocupados, como existem noutros locais do país. .Segundo os especialistas, a Tapada de Mafra é o único abrigo de morcegos na região Oeste, com floresta densa e árvores autóctones, como sobreiros ou freixos, habitats destas espécies, uma vez que a região está bastante modificada pelo aproveitamento agrícola dos campos e pela plantação de espécies arbóreas, como o eucalipto.