Segundo Nuno Sousa, do Domínio de Neurociências do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, a descoberta é relevante porque não se conheciam em detalhe os mecanismos envolvidos nas já conhecidas perturbações cognitivas, ao nível da memória, relacionadas com o consumo de cannabis..O trabalho, da autoria de investigadores de uma universidade de Barcelona, foi publicado na última edição da revista Nature Neuroscience.."Com este estudo, ficámos a entender de forma muito mais precisa os mecanismos moleculares que estão na base dos défices cognitivos associados ao consumo relativamente prolongado de canabinóides, nomeadamente os receptores e as cascatas de sinalização envolvidos", explicou à Lusa o neurocientista português, um dos autores de um trabalho publicado na semana passada na revista Science sobre os efeitos do stress crónico no processo de tomada de decisões..Concretamente, "ficámos a saber que um sector dos endocanabinóides activa uma cascata de sinalização que é modulada por dois outros neurotransmissores", assinalou..Na perspectiva do neurocientista, a descoberta permitirá identificar "um conjunto de potenciais alvos moleculares para desenvolver estratégias que no futuro impeçam, ou até revertam, esses défices cognitivos associados ao uso de canabinóides"..O estudo dos investigadores espanhóis - realizado com ratinhos geneticamente modificados na Unidade de Neurofarmacologia do Departamento de Ciências Experimentais e da Saúde da Universidade Pompeu Fabra - mostra que os efeitos em causa do cannabis se devem a uma interrupção do processo de consolidação da memória. .De acordo com Andrés Ozaita, um dos coordenadores do estudo, se forem bloqueadas as vias de sinalização que o cannabis põe em marcha, "evitar-se-ão também os seus efeitos na memória".