Desastre nos Trópicos
Esta crónica vai ser diferente das anteriores, porque o restaurante que visitei, o Casquinha de Siri, nas Avenidas Novas, fechou portas, entretanto. Porém, como há outra casa de mesmo nome e mesmos pratos que continua aberta em Belém (e é por isso que ela figura na ficha), acho que vale a pena contar a minha experiência.
Por outro lado, como o almoço que lá tive correu muito mal, prefiro pensar que apanhei a casa já com o fim à vista, com o consequente desânimo e deficiências que isso pode implicar.
Fui lá porque me tinham dito que havia boa cozinha brasileira e africana. No entanto, não sendo especialista de nenhuma delas, até a mim tudo me soube a sucedâneos de amadores. E só um certo fascínio pelos Trópicos pode explicar que se paguem 25 euros por pessoa, bebendo só uma cerveja, num ambiente sem qualquer conforto ou encanto, comendo-se pratos na melhor das hipóteses aceitáveis e ainda se fique satisfeito.
Uma ruidosa mesa de oito pessoas, ao meu lado, e quase o dobro de copos de caipirinhas, facilitou- -me a compreensão. Além disso, como nós portugueses bem o sabemos, quando estamos longe da pátria aceitamos por boas coisas que na nossa terra recusaríamos de imediato. E talvez o grande número de brasileiros que, felizmente, veio dar um pouco de colorido ao nosso país nos últimos anos já se comporte como "mercado da saudade" e veja neste Casquinha de Siri virtudes que não encontrei.
Logo no couvert, uns pãezinhos de queijo que, apesar de quentes, pareciam de borracha e eram certamente de massa congelada. Depois, uma desastrosa casquinha de siri, que nem a caranguejo luso sabia quanto mais a brasileiro. Custando seis euros cada e dando nome à casa, é imperdoável.
Quando tentámos escolher (tive companhia neste infortúnio), só à terceira encontrei algo que não tivesse acabado, apesar de serem 13.00. O africano calulu, que me recomendaram, não havia, o vatapá, tão-pouco. Fui pelo xinxim de galinha e ainda me disseram que talvez não houvesse, propondo nesse caso trocá-lo por um caril de galinha que "era quase a mesma coisa", porque tinha a ave em comum... A minha companhia lá conseguiu, à primeira, uma moqueca de camarão.
Provei dos dois pratos e só me lembro da omnipresença do sabor de leite de coco do primeiro e da sensaboria dos camarões. O xinxim de galinha eram bocados de frango com um molho sem identidade. Em comum, um arroz espapaçado como acompanhamento.
Nas sobremesas, eu até já tinha boas experiências com o manjar- -branco, um pudim leite de coco que vem com ameixas pretas secas em calda, e o quindim, um doce à base de ovos e coco ralado. Mas, para meu espanto, o manjar, em vez de à fatia, vinha numa taça, como se de uma mousse se tratasse, e um sabor inenarrável. Já o quindim, em vez dos habituais bolinhos, esse sim estava à fatia e ligeiramente mais comestível.
Só espero que o restaurante de Belém seja melhor, porque não há saudades do Brasil que justifiquem tanto disparate.
O melhor Ainda que tente...
O pior tudo