DeSantis candidato. A ascensão do rival que Trump ajudou a criar
O nome de Ron DeSantis começou a ser falado como um possível candidato à Casa Branca quando a pandemia da covid-19 estava no seu auge e o governador da Florida fazia tudo ao seu alcance para manter o estado a funcionar como normalmente. Confinou o mais tarde possível, reabriu mais cedo do que a maioria (incluindo as escolas), resistiu a decretar a obrigatoriedade de usar máscara. Era um dos governadores mais populares dos EUA.
Mas foi depois das intercalares de novembro de 2022, quando DeSantis conseguiu a reeleição e foi um dos poucos vencedores republicanos na noite, que o burburinho em torno da candidatura ganhou força. De repente o seu nome surgiu não como uma segunda escolha atrás de Donald Trump, mas como o único capaz de derrotar o ex-presidente, que muitos culparam pelo mau resultado eleitoral.
Após meses de falso suspense, com viagens até aos estados-chave das primárias e encontros com financiadores, DeSantis apresentou na quarta-feira oficialmente os papéis junto da Comissão Eleitoral. E tinha previsto fazer o anúncio da candidatura numa conversa com Elon Musk, dono do Twitter, na rede social em que este tem 140 milhões de seguidores e que o ex-presidente usou como ninguém para catapultar a sua carreira política.
Um golpe para Trump, que depois de ter sido suspenso do Twitter no rescaldo da invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, criou a sua própria rede social - a Truth Social. E apesar de ter sido autorizado a voltar ao Twitter, após Musk o comprar, ainda não o fez. O excêntrico milionário, dono também da Tesla e da Space X, disse ao Wall Street Journal que o facto de estar a acolher o anúncio de DeSantis não significa que o apoia, apenas que quer ver o Twitter como um lugar para o debate eleitoral. Mas também já disse que a sua preferência é ver "uma pessoa relativamente normal" na Casa Branca.
O evento estava previsto para as 18.00 de quarta-feira na costa leste dos EUA (23.00 em Lisboa), marcando o tiro de partida para nove meses de embate até às primárias que se realizam entre fevereiro e junho. DeSantis não é o único adversário de Trump - já há mais quatro candidatos oficiais e espera-se que surjam outros. Mas é o mais bem colocado para lhe fazer frente, apesar de estar longe nas sondagens.
Foi o próprio Trump que ajudou a aumentar a popularidade do governador, fazendo de DeSantis o principal alvo dos seus ataques por altura das intercalares - não gostando de ver como os media conservadores colocaram o jovem governador (44 anos) como o rosto do futuro do Partido Republicano e dos EUA. Tinha sido afinal o ex-presidente que ajudara o congressista (2013-2018) a chegar até à cadeira de governador da Florida, em 2019.
O ex-presidente chegou mesmo a ameaçar divulgar informação comprometedora de DeSantis, caso este avançasse na corrida. "Sei mais sobre ele do que qualquer outra pessoa, exceto talvez a mulher, que é quem está na realidade à frente da campanha", disse Trump ainda em novembro. DeSantis, católico, é casado com a ex-apresentadora de televisão Casey DeSantis, com quem tem três filhos.
As críticas não têm vindo a diminuir contra "DeSanctimonious" - a alcunha que Trump lhe deu, fazendo um jogo de palavras entre o seu nome e "sanctimonious", que refere alguém que se mostra moralmente superior aos outros. Ainda ontem, antes do evento oficial de lançamento da candidatura, o ex-presidente recorreu à sua rede social para mais um ataque - "Ele precisa desesperadamente de um transplante de personalidade e, tanto quanto sei, ainda não estão disponíveis. Uma pessoa desleal!"
DeSantis tem muitas das mesmas posições conservadores de Trump, tendo adotado também parte da sua retórica combativa. Contudo, apresenta-se como uma versão mais nova e mais limpa (em relação aos problemas com a justiça) do que o ex-presidente. A nível estatal, aprovou uma série de leis que agradam aos republicanos - proibiu o aborto depois das seis semanas, bloqueou financiamento para promover a diversidade nas universidades e proibiu a discussão de temas de igualdade de género e orientação sexual nas escolas.
Mas também entrou em choque com a Disney, precisamente devido a este tema, que cancelou um projeto no valor de mil milhões de dólares que criaria dois mil empregos. A nível internacional, causou polémica quando disse que a guerra na Ucrânia era uma "disputa territorial", dizendo que o tema não era uma prioridades para os EUA - declarações que depois retirou.
REPUBLICANOS
Donald Trump: O ex-presidente de 76 anos, que insiste que as eleições de 2020 lhe foram roubadas, lançou a sua candidatura ainda em novembro de 2022. É o grande favorito à vitória nas primárias republicanas, apesar dos problemas com a justiça.
Nikki Haley: A ex-governadora da Carolina do Sul e antiga embaixadora dos EUA na ONU, nomeada por Trump, é por enquanto a única mulher na corrida republicana. Aos 51 anos, defende uma "nova geração de líderes".
Vivek Ramaswamy: O empresário de origem indiana, de 37 anos, é famoso pelas suas posições anti-"woke" (um politicamente correto levado ao extremo e associado nos EUA à esquerda radical).
Asa Hutchinson: O ex-governador do Arkansas, de 72 anos, apresenta-se como um "conservador consistente". Defende que o papel de Trump na invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, o "desqualifica" para um novo mandato.
Larry Elder: O afro-americano de 71 anos, estrela da rádio conservadora, foi candidato a governador da Califórnia em 2021. Concorre à Casa Branca por dever "moral, religioso e patriótico".
Tim Scott: O único senador negro do Partido Republicano, eleito pela Carolina do Sul, fez o anúncio oficial da candidatura na segunda-feira, falando das origens humildes como filho de mãe solteira. Tem 57 anos.
DEMOCRATAS
Joe Biden: O presidente já anunciou que vai procurar a reeleição, apesar de festejar em novembro de 2024 (o mês das eleições), os 82 anos. E de serem mais os eleitores que desaprovam (53,8%) do que os que aprovam (42%) o trabalho que tem feito.
Robert Kennedy: O sobrinho neto do ex-presidente John F. Kennedy, de 69 anos, é um conhecido antivacinas e uma figura controversa dentro do partido.
Marianne Williamson: A autora de livros de autoajuda, de 70 anos, que também já foi candidata em 2020, coloca-se à esquerda de Biden.
susana.f.salvador@dn.pt