Desafios para a UE e a Índia
A UE tem uma população em redução, há muito tempo. A população reformada, com mais de 65 anos, é importante (19,2% em 2016), em crescimento, a ser sustentada por um número gradualmente menor de trabalhadores ativos (cidadãos entre os 15 e 64 anos, são 64.4% do total, a decrescerem). Qualquer dia a UE pode ficar a falar sozinha, por a sua voz ficar abafada num mundo em que novas potências económicas, científicas e populacionais emergem avassaladoramente.
As boas alianças dão-se entre países ou grupos com afinidade de valores, que os inspiram na definição das suas políticas internas e externas. E eles tornam possível a mútua colaboração. Seria um contra-senso um grupo de países democráticos aliar-se a um país totalitário, a não ser por oportunismo, pois as regras de jogo são dissonantes e não dão confiança, nem levam a relações estáveis.
Na Ásia há dois grandes, a Índia e a China, ladeados por outros que se desenvolveram de modo fulgurante depois da 2ª. GM, como o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e mais tarde o Vietname, a Indonésia e as Filipinas. Todos eles sabem de experiencia própria ou dos vizinhos, o que não querem; não querem um regime totalitário a intrometer-se nas vidas dos seus cidadãos.
Eles querem uma liberdade pessoal dentro do marco democrático. O que faz pensar que haverá uma rejeição visceral à China e procurarão apoiar-se nos países com um passado democrático claro, ao longo da sua existência. Irão apoiar-se na Índia, para criar um "muro de contenção" para a agressividade e a ameaça expansionista.
Os EUA parecem ter já entendido isso e fazem parte do Quad que configura uma aliança entre o Japão, a Austrália a Índia e os EUA. Infelizmente, a UE com uma liderança fragmentada e fraca no conjunto, parece importar-se mais em consumir a riqueza que acumulou, instalando-se comodamente dentro das suas muralhas.
O que projetou a Europa para um papel de primeira importância no Mundo foi a sua matriz Cristã e o inúmero conjunto de Missionários que levaram a sua Fé a muitos países do mundo, dedicando-se-lhe inteiramente.
Enquanto eles transmitiam, com convicção, a sua Fé, outros construíam Impérios aproveitando para se enriquecer e levar a riqueza para o seu país. Muito pouco eles deixaram aos locais, roubando e mesmo destruindo indústrias para vender os seus produtos aos países dominados. Foi o que fizeram os ingleses com toda a indústria têxtil da Índia. Afinal, eles é que tinham as armas...
Na altura em que os ingleses saíram da Índia, esta produzia menos de 3% da riqueza mundial, com insignificante taxa de literacia, de 17%, e a esperança da vida de 31 anos! Que contraste, quando em 1700 a Índia era a zona mais rica do mundo, com 27% da riqueza, enquanto a Europa toda apenas com 23% (cfr. Angus Maddison). Entende-se bem a pressa em despachar Vasco da Gama para a Índia: aí e que estava a riqueza!!!
Uma solução que poderá continuar a dar protagonismo à UE será aliar-se fortemente à Índia. Com Programas comuns nos campos da Ciência, da Medicina, do Espaço, das Tecnologias de Informação, mas sobretudo na Indústria, canalizando fortes investimentos para maior industrialização da Índia - investimentos que até aqui iam para a China -, para criar milhões de postos de trabalho adicionais (algo que a Índia muito necessita), e fabricar produtos industriais para o mercado indiano e para todo o mundo.
E o resto do mundo?
A África está a fazer razoáveis progressos, embora continue a ser sugada pelos políticos locais e capitalistas sem escrúpulo. Há a convicção de que à sombra de Instituições de ajuda dos países ricos, outros levam enormes somas para bancos estrangeiros. Parece haver ainda países Europeus que se fazem pagar avultadas somas pelas dívidas dos tempos coloniais!?
Mas a África levará tempo a estabilizar e a afirmar-se no domínio da Ciência e do saber. Não se pode esquecer a longa história da escravatura que deixou o continente abanado, desfeito e "perdido". E isso leva gerações a recompor.
Os grandes países da América têm potencial (penso no Brasil, na Argentina, no México). Contudo, o forte progresso só virá quando os dirigentes impuserem regras claras de jogo democrático, com uma justiça implacável garantindo uma real igualdade de oportunidades para todos! Terão de aprovar politicas para que toda a população jovem venha a ser efetivamente um dividendo demográfico!
Naquela aliança da UE com a Índia deverá haver um acento forte no compromisso com as antigas colónias para que alcancem um nível sustentado de literacia, de saúde, de formação de Universitários de alta qualidade, produzindo licenciados nas Ciências Médicas, Engenharias variadas, Enfermagem, que permitam acelerar o ritmo do progresso. A Índia desde sempre se comprometeu com a África, e neste século com reuniões periódicas das Chefias da Índia com as dos países Africanos, com avultadas linhas de crédito da Índia, para investimento e comércio.
A Europa, que tanto aproveitou da África e de outras colónias, tem particulares obrigações morais para as ajudar agora a sair dos seus problemas e a desenvolver-se a sério e a bom ritmo.
Professor da AESE-Business School (Lisboa) e do I.I.M. Rohtak (Índia).