Derrotado, o camaleão Tsipras antecipa as eleições à espera de uma surpresa
O primeiro-ministro grego, descontente com a derrota do seu Syriza frente à Nova Democracia nas europeias deste domingo, vai convocar eleições antecipadas.
Os gregos deviam ir a votos a 20 de outubro, mas agora deverão ser chamados às urnas em finais de junho ou início de julho.
"Os resultados não correspondem às nossas expectativas... Não os vou ignorar nem desistir", garantiu Tsipras a partir da sede do Syriza em Atenas.
O chefe do governo grego vai pedir a dissolução do Parlamento ao Presidente a partir de 2 de junho, data da segunda volta das eleições regionais e locais.
Sendo assim, as legislativas deverão não se poderão realizar antes de 30 de junho.
Kyriakos Mitsotakis, o presidente da Nova Democracia, agradeceu aos eleitores a vitória do seu partido e, sublinhando a ideia de que a Grécia está a viver uma viragem política, apelou a Tsipras para se demitir e convocar eleições.
Segundo as sondagens à boca das urnas, a Nova Democracia venceu as europeias na Grécia com 33,3% dos votos, à frente do Syriza do primeiro-ministro Alexis Tsipras. Este deverá ficar-se pelos 24%.
O terceiro lugar foi para o KINAL, o Movimento para a Mudança, da ex-socialista Fofi Gennimata, com 7 a 9%, à frente dos comunistas do KKE e da Aurora Dourada (extrema-direita), ambos com 5 a 7%.
Perante a mais que provável vitória da Nova Democracia, o Syriza começou por desvalorizar os resultados. Segundo o ministro das Finanças grego, Euclid Tsakalotos, as sondagens à boca das urnas "são como as salsichas, é melhor não querer saber do que são feitas", afirmou à Open TV.
Pouco antes, Dimitris Tzanakopoulos, o porta-voz do Syriza, tinha vindo garantir que a formação de esquerda "é um dos principais pilares do sistema político, capaz de obter uma vitória nas eleições nacionais.
A 25 de janeiro de 2015, Alexis Tsipras conseguia uma vitória histórica levando o Syriza e a esquerda radical pela primeira vez ao poder na Grécia. Tudo graças a uma mensagem antiausteridade e ao cansaço dos eleitores por uns partidos tradicionais manchados por nepotismo e corrupção. Aliado aos Gregos Independentes de Panos Kammenos, um partido de direita nacionalista, Tsipras acordava um prolongamento do segundo programa, dando mais tempo a Atenas para apresentar medidas que permitiriam aos credores libertar a última fatia do resgate.
Passados meses de negociações e inúmeras idas de Tsipras - e do seu entretanto famoso ministro das Finanças Yanis Varoufakis - a Bruxelas, junho viu o primeiro-ministro grego mudar de pele e romper o diálogo e convocar um referendo às medidas propostas pelos credores. A 5 de julho, seis dias depois de Atenas ter falhado um pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) os gregos davam uma vitória inequívoca ao Não (o oxi, que se lia nos cartazes dos manifestantes na praça Syntagma e nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo.
Investido de nova legitimidade, mas já sem a influência de Varoufakis (que se demitiu no dia 6), Tsipras voltava a Bruxelas para novas negociações, sob pressão como nunca de uns parceiros europeus cada vez mais decididos a empurrar a Grécia para fora da União Europeia se um acordo falhasse.
Na noite de 13 para 14 de julho, o camaleão Tsipras voltava a sofrer uma transformação. Após 14 horas de maratona negocial saía de Bruxelas com o acordo para o terceiro resgate que jurara nunca aceitar. 86 mil milhões de euros que obrigam a Grécia a novas medidas de austeridade, mas injetam uma lufada de ar fresco nas contas de Atenas.
A verdade é que, passados três anos, a Grécia saiu do programa do estabilidade - a 20 de agosto de 2018 - e passou de uma forte recessão para um crescimento, mesmo que modesto - 1,9% em 2019. O desemprego baixou, apesar de ainda andar nos 18,5%.
Apesar de tudo, as últimas sondagens já deixavam adivinhar uma derrota dos Syriza nas eleições. Decidido a arregaçar as mangas e voltar a pôr o seu destino e o do Syriza nas mãos dos eleitores, vamos ver se Tsipras volta a surpreender tudo e todos, ganhando um novo mandato numas eleições em que os gregos parecem ter esquecido que foi a Nova Democracia quem levou o país à crise financeira.