Derrota na estreia não retira confiança: "Vamos crescer"
O dia era sobretudo de festa e nada - ou quase nada - poderia apagar essa sensação. Portugal já faz parte da elite do futebol feminino, após a estreia em grandes competições internacionais, ontem, em Doetinchem, uma pequena cidade de 55 mil habitantes no leste da Holanda, país que acolhe este Europeu histórico para a seleção nacional. Adversária neste primeiro jogo, a Espanha encarregou-se de mostrar que ainda há um longo caminho que falta percorrer a partir daqui, batendo Portugal por 2-0.
No relvado, como na folha final das estatísticas, ficou evidente que há um mundo a separar a seleção portuguesa das mais fortes seleções do futebol feminino (como esta Espanha tenta ser). A equipa de Francisco Neto não pôde mais do que cerrar os dentes por uma estreia digna face ao futebol muito superior das rivais, alicerçado numa cultura de posse de bola, transversal a todo o edifício das seleções espanholas.
No final, 2-0 no resultado, 17-1 em remates, 76-24 em percentagem de posse de bola e 739-203 em passes tentados com 89%-61% de acerto não deixam dúvidas quanto à superioridade de uma Espanha que já tinha batido Portugal por duas vezes na fase de qualificação (2-0 e 4-1). Mas a estreia portuguesa não envergonhou ninguém. Pelo contrário, a forma como a seleção soube responder melhor durante a segunda metade, mesmo que a Espanha possa ter tirado o pé do acelerador, deixa perspetivas de evolução durante o torneio.
Ontem, a resistência portuguesa durou apenas 22 minutos e 40 segundos, por entre momentos de sofreguidão e algumas pingas de ilusão, até a espanhola Andrea Pereira expor um buraco nas costas da defesa lusa com um lançamento longo ao qual a central Sílvia Rebelo foi incapaz de reagir a tempo, deixando Vicky Losada isolada para o remate às redes. A equipa nacional ficou encostada às cordas, tentou aguentar assim até ao intervalo, Patrícia Morais foi salvando algumas aflições na baliza, mas aos 42 minutos só pôde limitar-se a assistir ao inalcançável cabeceamento da isolada Amanda Sampedro, novamente nas costas de Sílvia Rebelo.
"Para um jogo de estreia num Europeu estou satisfeito com a atitude e o esforço das jogadoras, ainda que não com o resultado. Elas deram tudo", referiu no final o selecionador português Francisco Neto, reconhecendo que a equipa poderia "ter usado melhor a bola quando em posse, mas a Espanha é uma grande seleção e poucas equipas conseguem ter controlo de bola contra uma formação tão boa quanto a espanhola". O técnico nacional admitiu que as jogadoras sentiram "algum nervosismo inicial, o que é normal", mas gostou de ver Portugal "crescer durante o jogo". "Vamos crescer também ao longo do torneio", vaticinou.
Considerada a melhor jogadora em campo, a espanhola Amanda Sampedro, autora do segundo golo da partida, também deixou elogios à seleção portuguesa: "Cada vez que jogamos contra Portugal elas estão melhor. Hoje [ontem] tentaram fechar-nos os caminhos para a baliza, mas nós temos muito talento na frente e conseguimos explorar as alas para ganhar vantagem. Foi difícil romper aquela barreira, elas trabalharam bastante. Como digo, melhoram a cada jogo e desejo-lhes a melhor sorte para o resto deste grupo D."
O onze para a história
Portugal jogou com: Patrícia Morais; Ana Borges, Sílvia Rebelo, Carole Costa e Dolores Silva; Vanessa Marques, Tatiana Pinto e Suzane Pires (Melissa Antunes, 71"); Ana Leite (Carolina Mendes, 59"), Cláudia Neto e Diana Silva (Laura Luís, 85").