Deputados do PCP deram 1,1 milhões de euros ao partido

Saldo das contas dos comunistas é positivo, mas ainda está longe de atingir, como desejam, a autonomia financeira. "PCP não faz especulação nem promove offshores"
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Os 18 deputados do PCP - 15 na Assembleia da República e três no Parlamento Europeu - entregaram aos cofres do partido mais de um milhão de euros em 2015. O PCP tem por regra que os seus eleitos mantêm o mesmo salário que recebiam antes de assumirem aquelas funções. Jerónimo de Sousa, por exemplo, fica com o vencimento de cerca de 700 euros, o mesmo que auferia quando era operário metalúrgico.

De acordo com as contas divulgadas no XX Congresso do PCP, que decorre até hoje em Almada, os eleitos contribuíram com 1 123 631,93 euros para as receitas do partido, o que constitui cerca de 10% das receitas totais (11,2 milhões).

Questionado pelo DN sobre qual o salário mais elevado e o mais reduzido, a média das contribuições e a forma como são processadas estas contribuições, o gabinete de imprensa do PCP declinou dar informações sobre esta matéria.

Ao que o DN apurou, a média dos salários dos deputados é inferior a mil euros (líquidos), sendo certo que um deputado à Assembleia da República aufere um vencimento de perto de 3700 euros brutos, em exclusividade.

As contas de gestão do partido apresentam como maior fonte de receitas os "outros rendimentos e ganhos" (2,9 milhões), essencialmente provenientes do património imobiliário do PCP, as campanhas de angariação de fundos (2,7 milhões) e as contribuições dos filiados (2,1 milhões). Apesar do resultado positivo acumulado de 1,2 milhões de euros, o resultado financeiro, nos quatro anos entre o último congresso e o que hoje termina, tem uma média anual negativa de cerca de um milhão de euros.

"A independência política e ideológica do PCP é indissociável da sua independência financeira", é "uma questão vital para garantir o desenvolvimento da ação do PCP ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país", lê-se na resolução política ontem votada.

Manuela Pinto Ângelo, do secretariado do Comité Central, salientou ontem numa intervenção sobre os fundos do partido que "as contas entre 2012 e 2025 confirmam que o financiamento do PCP assenta em receitas e meios próprios, representando 90% do total de receitas, enquanto a subvenção pública apenas representa 10%".

Esta dirigente salientou a importância do património do partido, do qual os comunistas têm "muito orgulho" e são uma "componente marcante da nossa independência política e ideológica". E garantiu, numa resposta a algumas dúvidas lançadas por outros partidos: "Todos os espaços não afetos à atividade partidária pagam IMI de acordo com a lei. O PCP assume todas as suas responsabilidades fiscais, não faz especulação imobiliária, não promove offshores como alguns querem fazer crer."

Já passava das 18.00 quando terminou a última sessão pública do dia - a partir daí os trabalhos do congresso decorreriam à porta fechada, reservados aos delegados - e nas colunas de som ecoava José Afonso, com "o que faz falta é animar a malta", uma síntese quase à medida do segundo dia da reunião magna comunista.

Descontando as intervenções de João Oliveira, Carlos Carvalhas, Edgar Silva e das representações venezuelana e palestiniana, o tom dos discursos foi morno e sem ponta de contestação ao governo socialista. Mesmo que o líder parlamentar tenha reafirmado que o PCP não fez sua a política do PS e o antigo líder do partido tenha avisado os socialistas para não se iludirem.

Mudam-se os tempos, há vontades que permanecem: a única vaia que até ontem se ouviu no congresso foi dirigida a... Cavaco Silva.

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