Ao puxão de orelhas de Ferro Rodrigues para que os partidos resolvam a questão do registo de presenças e das viagens dos deputados, as bancadas parlamentares fazem avançar nomes de peso para o grupo de trabalho que vai avaliar os procedimentos nestas duas situações..António Leitão Amaro (PSD), Pedro Delgado Alves (PS), Pedro Filipe Soares (BE), António Carlos Monteiro (CDS), António Filipe (PCP) e José Luís Ferreira (PEV) vão agora trabalhar com a "máxima urgência", como pediu o presidente da Assembleia da República, para encontrar soluções que satisfaçam as várias bancadas..Não será um exercício fácil: o Bloco de Esquerda mostrou abertura, na reunião da conferência de líderes da passada quarta-feira, para refletir a possibilidade de uso de dados biométricos (que podem passar pela impressão digital, pelo reconhecimento facial ou da voz, pela leitura da íris) para os deputados registarem a sua presença..À saída da reunião, o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, apontou para a necessidade de "ir além do modelo que existe", sem indicar nenhuma solução concreta. Na reunião, o deputado do BE já tinha mostrado a disponibilidade para discutir formas mais exigentes, que poderão passar pela utilização de dados biométricos..Não é um gesto tão raro quanto isso. Hoje, a impressão digital é usada para ativar determinados modelos de smartphones. Mas PCP e PEV discordam em absoluto, como o presidente da Assembleia da República, que foi bem mais contundente contra esta solução..Numa declaração lida no início da conferência de líderes, divulgada junto dos jornalistas, Ferro Rodrigues considera "inaceitáveis quaisquer formas de funcionalização dos mandatos parlamentares" que passem pela equiparação do registo de presenças dos deputados "ao modelo em vigor para os funcionários". De facto, os funcionários do Parlamento registam a sua presença com o dedo, na entrada do edifício de São Bento..Ferro sublinhou que, para evitar situações futuras, "afigura-se como indispensável distinguir a simples ligações do computador do registo das presenças"..O comunista António Filipe defendeu ao DN que uma medida, como a leitura de dados biométricos, "é de natureza quase policial". "Isso é introduzir para os deputados o que não queremos para os trabalhadores", justificou, apontando que o PCP é contra o uso destes dados em empresas e instituições públicas. "O que está é rigoroso", apontou, "desde que não se aldrabe"..Na mesma linha, fonte oficial do PEV confirmou ao DN que é "contra este tipo de controlo para qualquer trabalhador", "por uma questão de princípio"..Os socialistas lembraram que não se discutiu o uso de dados biométricos na reunião de quarta-feira, pelo que é abusivo antecipar - como fez o deputado dos Verdes José Luís Ferreira - de que foi afastada essa possibilidade por todas as bancadas, notou fonte parlamentar..Nesta segunda-feira os partidos indicam formalmente os nomes para o grupo de trabalho, que será coordenado pelo socialista Jorge Lacão, vice-presidente do Parlamento, em representação de Ferro Rodrigues.