Deputado deserta e deixa conservadores sem maioria durante discurso de Boris Johnson
A rebelião conservadora contra Boris Johnson acaba de deixar o primeiro-ministro sem maioria na câmara dos Comuns. Esta era apenas de um deputado, contando já, para o efeito, com os deputados aliados do Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte. No momento em que discursava, no Parlamento, Phillip Lee, membro do Partido Conservador desde 1992, levantou-se e foi sentar-se na bancada do Partido Liberal-Democrata.
"Há 27 anos juntei-me ao partido Conservador e Unionista liderado por John Major. Desde 2010 tive o privilégio de representar a circunscrição de Bracknell. O partido a que me juntei em 1992 não é o partido do qual saio hoje", escreveu Lee, num comunicado divulgado de imediato pelos media britânicos. "Estou muito satisfeita por receber Phillip nos liberais-democratas neste momento", declarou Jo Swinson, a líder do Partido Liberal-Democrata, numa rápida reação ao sucedido.
Phillip Lee veio assim juntar-se a outros rebeldes que, ao longo desta terça-feira, anunciaram que iriam votar ao lado da oposição na moção de emergência que hoje vai ser apresentada no Parlamento, com o objetivo de recuperar o controlo da agenda parlamentar e, dessa forma, aprovar legislação que impeça o governo britânico de levar o Reino Unido para um No Deal Brexit a 31 de outubro. Ou que anunciaram que não tencionam candidatar-se pelos conservadores, caso o país vá para eleições antecipadas. Contornando, dessa forma, a ameaça feita por Boris Johnson, de que iria demitir os deputados que votassem ao lado da oposição e contra o governo.
Na semana passada, Ruth Davidson, líder do Partido Conservador na Escócia, demitiu-se do cargo, em rota de colisão com Boris Johnson depois de este ter forçado a Rainha a suspender o Parlamento por cinco semanas. É que, apesar de o Brexit ter ganho no referendo a nível nacional, na Escócia a grande maioria dos eleitores votou pela permanência na UE. E, dadas as especificidades do sistema eleitoral e político britânico, muitas vezes o interesse e a vontade dos eleitores locais fala mais alto do que os interesses e as vontades do partido nacional.
Esta terça-feira já, Justine Greening, deputada conservadora eleita por Putney, na Grande Londres, foi a primeira a comunicar, logo de manhã, que não tenciona ser mais candidata pelo partido uma vez que este mais parece o Partido do Brexit de Nigel Farage. "Vou enviar uma carta ao primeiro-ministro dizendo que não me apresento às próximas eleições como candidata dos Conservadores. As minhas preocupações são que o Partido Conservador agora se transforme no Partido do Brexit", declarou a deputada, citada pelo programa Today da BBC Radio 4.
A Justine Greening, seguiu-se Keith Simpson, conservador eleito por Broadland, em Norfolk. No Twitter, o deputado confirmou a decisão de não ser mais candidato pelos Tories. "Falei à rádio Norfolk e disse que não procurarei a reeleição pela circunscrição de Broadland. Decidi isto há meses mas agora sinto-me como o rapaz dos barcos salva vidas no Titanic!". Alistair Burt, deputado conservador eleito por Bury, também indicou que irá votar ao lado da oposição e que não será candidato pelo Partido Conservador nas próximas eleições.
Também através dessa rede social, Sam Gyimah, deputado conservador eleito por East Surrey, anunciou que esta terça-feira vai votar contra o governo da sua cor partidária. "Vou votar esta noite contra o governo porque é a coisa mais acertada a fazer", escreveu num tweet.
Na intervenção que fez no Parlamento, Boris Johnson, garantiu que não é verdade que o seu governo não está a fazer progressos na sua renegociação do acordo do Brexit com a UE27 e que existem alternativas práticas ao backstop, o controverso mecanismo de salvaguarda destinado a evitar o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda depois de o Reino Unido sair da UE. O líder dos conservadores britânicos confirmou que vai encontrar-se com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, na segunda-feira, em Dublin. "Acredito que podemos livrar-nos do backstop", afirmou, uma e outra vez.
O primeiro-ministro britânico e líder do Partido Conservador recusou a moção que hoje vai ser apresentada pela oposição e pelos rebeldes conservadores para tentar travar um No Deal Brexit, classificando-a como "a lei da redenção de Jeremy Corbyn". E dizendo que isso significa "mostrar a bandeira branca". Boris sublinhou: "Em nenhuma circunstância irei aceitar alguma coisa como esta", referindo-se a alguma legislação que o Parlamento possa aprovar no sentido de o obrigar a pedir um novo adiamento do Brexit (possivelmente até 31 de janeiro de 2020).
Replicando, Corbyn, líder do Labour, desafiou Boris a dizer se irá respeitar, de forma vinculativa, qualquer legislação aprovada pela câmara dos Comuns. O dirigente trabalhista acusou o governo de Boris Johnson, dominado por brexiteers radicais, de "já não ter nem mandato, nem moral e, a partir de hoje, nem maioria". O chefe do governo não respondeu logo a Corbyn neste ponto, mas instado por outra deputada, mais tarde, declarou que irá agir de acordo com a Constituição e a lei.
No aceso debate com os deputados, obrigando a vários gritos de Order! por parte do Speaker do Parlamento, John Bercow, o chefe do governo frisou que não quer eleições antecipadas. Porém, fontes do governo indicaram que o primeiro-ministro poderia submeter uma moção para obrigar a legislativas mais cedo, a 14 de outubro - dia em que o Parlamento, se for mesmo suspenso, regressa aos trabalhos com o tradicional discurso da Rainha. Se for mesmo suspenso, porque há várias ações legais em tribunal a tentar travar essa mesma suspensão. Não a ordem da monarca, mas o pedido do primeiro-ministro feito à mesma nesse sentido.