Depressão pós-parto
Um elevado número de mulheres desconhece o que é a depressão pós-parto. Isto porque esta «surge frequentemente associada a uma doença psicológica que aparece de forma isolada numa mulher que teve o seu bebé e desenvolveu este quadro de depressão a seguir ao parto», explica Maria de Jesus Correia, psicóloga clínica na Maternidade Alfredo da Costa. Segundo a especialista, é fundamental desmistisficar a ideia de que é comum uma mulher sem historial de depressão e que é emocionalmente estável vir a sofrer desta forma de depressão: «Surge na sequência do parto e resulta de alguns factores predisponentes, principalmente de uma estrutura de personalidade emocionalmente frágil, com tendência à depressão», esclarece a especialista.
Essa compreensão da origem da depressão pós-parto baseia-se na análise dos vários casos que desenvolveram este quadro na Maternidade Alfredo da Costa e em outras maternidades. «Verificámos que a maioria daquelas mulheres tinham tido, antes da gravidez, episódios de depressão reactivos a situações de crise e por uma série de razões.» Maria de Jesus Correia afirma que a depressão pós-parto pode estar relacionada com «dificuldades emocionais e/ou de relacionamento com o companheiro, ausência de projecto de gravidez e de maternidade, um parto ou uma recuperação complicada».
O blues
Apesar de poder ser o ponto de partida para o possível desenvolvimento de um quadro de depressão pós-parto em mulheres frágeis do ponto de vista emocional, o blues pós-parto ou síndrome afectiva ligeira pós-parto não deve ser confundido com depressão e não a provoca sempre, sublinha Maria de Jesus Correia. «O blues pós-parto é uma entidade psicoafectiva relacionada com alterações emocionais normais que decorrem do pós-parto. A mulher apresenta oscilações de humor (tem vontade inexplicável de chorar, irrita-se com situações do quotidiano), é afectada por alterações dos padrões do sono (dorme muito ou tem insónia) e da alimentação (está com muito apetite ou não lhe apetece comer).»
O blues pós-parto costuma surgir no segundo dia de puerpério (após o parto) e caracteriza-se por sentimentos de tristeza e vontade de chorar que a mulher tem, mas que são superáveis ao longo do dia: «De manhã, pode ter vontade de chorar, mas ultrapassa essa situação e consegue organizar-se e fazer a sua vida normal, mesmo que à noite lhe suceda o mesmo», explica a psicóloga da Maternidade Alfredo da Costa.
A mulher apercebe-se, geralmente já em casa, da ocorrência de um conjunto de mudanças. «Desde alterações hormonais aos incómodos associados ao pós-parto (físicos e subida de leite), até à adaptação ao bebé.» A maternidade suscita uma mudança no estilo de vida da mulher, que deve agora preencher as expectativas associadas ao novo papel social de mãe, o que gera por vezes o blues pós-parto. «Este quadro pode evoluir para uma depressão, apesar de não a provocar necessariamente», esclarece Maria de Jesus Correia. O blues pós-parto pode durar entre uma e três semanas, mas regra geral vai desaparecendo.
O sinal de alerta surge quando essa situação não só permanece no tempo como também se agrava, originando uma depressão pós-parto, afirma. «Quando estes sintomas e afectos negativos acabam por condicionar a vida diária da mulher, ou seja, quando ela deixa de cumprir de forma apropriada os seus papéis (cuidadora do bebé e gestora dos assuntos do lar), podemos estar na presença de uma depressão pós-parto.»
Ajuda
A procura de ajuda é o ponto de partida para vencer a depressão pós-parto, num contexto em que é indispensável ultrapassar o estigma social relacionado com a incompreensão face ao facto de a maternidade não ser sempre sinónimo de alegria e realização: «No caso de a mulher sentir que não está bem, deve recorrer a um profissional especializado (psicólogo) que a possa ajudar a compreender o que se está a passar», aconselha Maria de Jesus Correia. A especialista frisa que «o principal problema na depressão pós-parto é não ser diagnosticada e tratada». Daí a importância de divulgar informação referente à disponibilização de consultas de psicologia clínica nos centros de saúde e de psicologia de gravidez, maternidade e paternidade, nas maternidades. «O centro de saúde pode desempenhar um papel muito relevante por estar mais próximo das mulheres e da comunidade.»
Diferença
A adaptação à maternidade é um desafio e, de alguma forma, constitui uma fonte de ansiedade e receios para as mulheres que sofrem de blues pós-parto ou para aquelas cujo quadro evolui para depressão. Mas o apoio e compreensão da família podem fazer toda a diferença. «A partilha das tarefas entre a mulher e alguém da família, bem como a presença e apoio do companheiro revestem a máxima importância», reforça a psicóloga da Maternidade Alfredo da Costa. À família cabe igualmente incentivar a mulher a pedir ajuda caso se aperceba de que ela não se encontra bem ou que tem dúvidas em relação à maternidade: «Os familiares devem evitar tecer críticas ou desvalorizar as queixas das mulheres.»
Os casos de depressão pós-parto diferem do blues pela necessidade do seguimento de um tratamento misto baseado, por um lado, na toma de antidepressivos e, por outro, na frequência de consultas de psicoterapia. «Se a mulher tem insónias e já não se consegue concentrar há pelo menos três semanas deve procurar o seu médico assistente, pois tem uma depressão que necessita de ser tratada. O tratamento precoce devolverá a qualidade de vida à mulher, evitando recaídas.»
Sinais de alerta
> Uma ou duas noites sem dormir.
> Perda de apetite.
> Choro contínuo sem razão aparente.
> Irritabilidade.
> Manifestações psicossomáticas (por exemplo, dores de cabeça ou paragens de digestão).