Depois de "mês mais conflituoso", CGTP ameaça com abril de luta

Greves, paralisações, manifestações: março foi mês de grande conflitualidade social. Não há números, mas Arménio Carlos sublinha que está nas mãos do Governo resolver
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Greve na próxima segunda-feira nos comboios, paralisação de guardas prisionais, tripulações da Ryanair em terra, funcionários do SEF parados, greve às horas extra dos pilotos da TAP, professores e cientistas na rua a pedirem a regularização de vínculos laborais ou um desfile ontem, em Lisboa, de jovens trabalhadores contra a precariedade e os baixos salários...

Sem dados disponíveis para o mês de março, o secretário-geral da CGTP-Intersindical Nacional, Arménio Carlos, não tem dúvidas em classificar este mês, que está a terminar, como um dos que mais conflitualidade social teve desde a tomada de posse do Governo socialista com o apoio parlamentar do BE, do PCP e do PEV. Sem perspetivas de abrandar: abril pode ser um mês de protestos mil.

"O mês de abril e os que se seguem vão determinar o aumento ou não da conflitualidade, dependendo da resposta do Governo", avisou Arménio Carlos em declarações ao DN.

Para o líder da central sindical, está nas mãos do executivo do PS "continuar a colocar os números do défice à frente da vida das pessoas" ou não. "É por demais evidente que se os trabalhadores não tiverem resposta, vai haver um aumento da conflitualidade social e um 1.º de maio com uma grande participação", antecipou Arménio Carlos.

Segundo o secretário-geral da CGTP, março ficou marcado por lutas sobretudo no setor público, com contestação na educação, saúde e administração local. "É a consequência de um conjunto de expectativas que foram frustradas", apontou.

A atualização salarial continua aquém do esperado e "há uma frustração na forma como estão a ser aplicadas as progressões", acrescentou Arménio Carlos. "Há muita gente fora", apontou. "Há compromissos que o Governo assumiu e não cumpriu", nomeadamente com os professores, na contagem dos anos de carreira, e com os enfermeiros, exemplificou.

Em síntese, "este mês de março reflete uma resposta firme e organizada" dos trabalhadores.

Os números são omissos, para já. E analisando os dados de janeiro e fevereiro, os pré-avisos de greve estão em linha com o período homólogo de 2017, mostrando até uma ligeira quebra.

Em fevereiro do ano passado, tinham entrado 65 pré-avisos de greve, dos quais 16 no setor empresarial do Estado e 49 fora deste âmbito, segundo os dados recolhidos pela Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Até 28 de fevereiro deste ano, deram entrada 61 pré-avisos (13 no setor empresarial do Estado; 48 fora deste setor).

Depois dos anos de brasa da troika, nos quais por exemplo os pré-avisos de greves em 2012 e 2013 (1895 e 1534, respetivamente), a conflitualidade social caiu para níveis bem mais baixos em 2016 (488), o primeiro ano de executivo socialista que, desde 2005, foi apenas batido pelo ano de 2009 com um mínimo de 376 pré-avisos de greve.

Estes números voltaram a subir para 613 no ano passado, número ainda assim inferior aos 811 pré-avisos de 2015 - estávamos no final da governação PSD/CDS.

No Parlamento, PCP e BE têm colocado o Governo, por interposta bancada socialista, sob pressão com a apresentação de iniciativas legislativas que pretendem reverter algumas das medidas introduzidas no Código do Trabalho, que os parceiros parlamentares do PS classificam como "gravosas". O executivo socialista tem remetido o debate para sede de concertação social. Enquanto isso a rua ganha espaço para o protesto.

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