Denúncias de pressões e ataques fazem subir tensão entre socialistas

Apoiantes de José Luís Carneiro apontam "receio de consequências" em quem dá a cara pela candidatura. Campanha de Pedro Nuno Santos diz ser "impossível controlar" o que todos dizem.
Publicado a
Atualizado a

Com a campanha para as eleições internas do PS prestes a terminar, pois os militantes de algumas federações socialistas votam amanhã, com os restantes a fazerem-no no sábado, os ataques desferidos entre as principais candidaturas intensificaram-se, ainda que os seus responsáveis defendam publicamente uma contenção nem sempre praticada pelos apoiantes.

Num encontro de José Luís Carneiro com militantes de Lisboa, na noite de segunda-feira, houve referências diretas a pressões exercidas sobre os apoiantes do ministro da Administração Interna. O antigo autarca socialista Vasco Franco denunciou "comportamentos inqualificáveis de alguns pequenos poderes paroquiais, pressionando e ameaçando militantes pelo simples facto de pretenderem candidatar-se a delegados ao congresso". Ainda mais claro foi Miguel Coelho, com o ex-responsável pela concelhia de Lisboa a falar de "listas que foram desmobilizadas", e a saudar os "heróis" que avançaram em Loures, autarquia presidida por Ricardo Leão, apoiante de Pedro Nuno Santos. Ao DN, Coelho disse que, após décadas de vida partidária, nunca tida visto "haver listas prontas para serem entregues, e no próprio dia dizerem que não o podiam fazer". "Sente-se que há um certo espírito de receio de consequências", disse o histórico socialista, que na segunda-feira disse aos apoiantes de Carneiro que "temos de estar atentos no dia da votação" e "estar nas mesas de voto". Um apelo que disse ao DN significar simplesmente que, "se estiverem lá delegados, não acontecerão de certeza coisas estranhas".

Tais palavras não mereceram comentários do lado de Pedro Nuno Santos. "Ele lá saberá do que está a falar. Preocupo-me com o trabalho que está a ser feito na nossa candidatura", disse ao DN Francisco César, que dirige a campanha do antigo ministro das Infraestruturas.

"Não nos referimos nenhuma vez ao nosso adversário e existe uma orientação clara para falar do país e do nosso projeto, independentemente de ataques de que fomos alvo", defendeu o deputado, admitindo que "é impossível, e nem seria desejável, controlar tudo o que todos os apoiantes dizem".

Exemplo disso foi a reação de Porfírio Silva, apoiante de Santos, à declaração de Tony Carreira em favor de Carneiro. O deputado partilhou no X (antigo Twitter) notícias sobre esse apoio e sobre a participação do cantor numa campanha da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, tutelada pelo ministro da Administração Interna. "Há coincidências do caneco, não há?!", comentou. Na campanha do atual governante sentenciou-se que a relação entre as duas coisas é "ficção científica", pois Tony Carreira não cobrou por entrar na campanha de segurança rodoviária e perdeu a filha num acidente.

Vasco Franco também criticou um artigo de Ascenso Simões, que qualificou de "sabujice repugnante" sem nomear o autor. O deputado escreveu que Carneiro não teria disputado a liderança do PS caso Santos lhe tivesse garantido apoio a uma candidatura à Câmara do Porto nas autárquicas de 2025.

A realização da eleição do secretário-geral do PS (e da presidente das Mulheres Socialistas) ao longo de dois dias, com a Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) e a Federação de Setúbal a constarem entre aquelas em que os militantes votam amanhã, enquanto Porto e Braga, atualmente as maiores do país, a ficarem para sábado, levará a que seja provável que os resultados do primeiro dia de votações sejam conhecidos por quem estiver a votar no segundo, o que ganha relevância pelo facto de estar em causa uma escolha disputada entre dois fortes candidatos à sucessão de António Costa, além da recorrente candidatura de Daniel Adrião.

As federações que irão votar na sexta-feira procederão ao escrutínio após o encerramento das urnas, que também tem horários variáveis, consoante as muitas secções e locais de voto. E, embora a comissão de organização só vá divulgar publicamente o grau de participação entre os militantes que constavam dos cadernos eleitorais, a presença de delegados das três candidaturas assegurará que Daniel Adrião, José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos terão noção dos resultados que conseguiram na assaz importante FAUL, onde o ex-ministro das Infraestruturas tem o seu braço direito Duarte Cordeiro, mas também em Setúbal - onde garantiu apoio de quase todos os deputados e autarcas socialistas, sendo a edil de Almada, Inês de Medeiros, a exceção ao lado do titular da Administração Interna -, em Aveiro, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Leiria, Portalegre, Oeste, Viana do Castelo e Vila Real. Assim sendo, a divulgação oficiosa entre os militantes da eventual vantagem significativa de uma candidatura poderá ter efeitos nas votações de sábado.

Para o segundo dia ficam as votações em Porto, Braga, Algarve, Baixo Alentejo, Coimbra, Santarém, Viseu, Açores e Madeira. A divulgação oficial dos resultados finais, que também englobam os 1400 delegados eleitos ao Congresso de 15 a 17 de janeiro, em Lisboa, estão previstos para depois das 23h00, sabendo-se então quem terá a missão de liderar o PS nas legislativas de 10 de março de 2024.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt