Democracia: 25 de Abril
No dia 25 de Abril de 1974, tinha eu 17 anos, fiquei atarantado com tanto rebuliço. Na minha família nunca houve uma tradição de discutir-se os problemas e questionar. Nessa idade pensava em tudo menos em política, queria era acabar o meu curso, porém, sempre detestei uma sociedade amordaçada e medrosa.
Apesar de tudo valeu a pena, mas falta muito para se atingir os objectivos de um povo culto, informado e independente, temos uma sociedade civil muito fraca com uma cultura de obediência e medo. A intervenção cívica para quem a realiza é sempre complicada e é quase sempre uma desilusão.
O poder inibe outras formas de pensamento e de agir.
Vivemos numa sociedade amorfa e pobre, sou pela liberdade, tolerância e contra o unanimismo bacoco. É urgente pensar, mudar e reinventar a nossa vida, com toda a certeza iria preso, teria imensos problemas com a PIDE por ser contra a ditadura e pela liberdade de expressão e intervenção cívica.
O país está dominado pelo poder económico e sem independência económica não há liberdade.
Eu tenho obrigação moral de ensinar ao meu filho e explicar-lhe o quanto foi nefasto viver em ditadura. Ele ouve, mas liga pouco, não gosta dos nossos políticos e da política, devido às suas práticas, comportamentos e atitudes.
Como dizia Winston Churchill: " A democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras que foram experimentadas".
O que tem acontecido depois de 48 anos de democracia é mau demais para ser verdade. Dizer que a democracia está em crise não é novidade, há muito que se diz que a democracia está doente.
O controlo sobre as pessoas é cada vez maior, o equilibro de poderes é uma balela. Há a força dos poderes financeiros e os controlos institucionais falham. As desigualdades sociais, geracionais e entre grupos sociais crescem sem parar.
O 25 de Abril não se fez somente para se poder votar. O voto é uma maneira muito pobre de intervir.
Há problemas relacionados com a democracia, com a sua vitalidade, com a sua capacidade para satisfazer as necessidades dos cidadãos. Há muito medo, há muita corrupção.
Não se pode meter a mão no que é de todos. É preciso ter um guia para educar a sociedade. A corrupção não tem que ver com a instrução, mas com a moralidade.
Há que educar a sociedade em que o que é público é sagrado, que não se pode meter a mão no que é de todos. O problema que temos é que há gente a pensar que o dinheiro de todos não é de ninguém.
Esta sociedade é injusta e deve ter a segurança que a justiça funcione como parte do sistema.
O delito é a principal violação do direito dos demais, quando é contra as Finanças Públicas é contra o dinheiro de todos.
A democracia tem que fazer valer que qualquer cidadão tenha uma vida livre, autónoma e essencialmente digna. O pior delito é o que toca a dignidade.
Como dizia Sá Carneiro, "os portugueses têm o direito de saber, naturalmente, para onde vamos e quando chegaremos".
Se não nos pusermos de acordo para mudar esta democracia e fizermos o favor de nos incomodarmos com este estado de coisas, a democracia vai sucumbir.