As demissões sucedem-se no governo britânico e no Partido Conservador, em sequência da polémica "pinchergate", mas Boris Johnson diz que vai continuar a desempenhar o cargo de chefe do executivo. "O trabalho de um primeiro-ministro em circunstâncias difíceis, quando se recebe um mandato colossal, é continuar e é isso que vou fazer", afirmou esta quarta-feira Boris Johnson no parlamento.."Quando o país enfrenta pressões a nível económico e pressões orçamentais, quando temos a maior guerra na Europa em 80 anos, é nesses momentos que contamos que o governo continue a trabalhar e não que se demita", sublinhou Boris Johnson, reforçando que o executivo tem de se focar no que "é mais relevante para os cidadãos" britânicos..O secretário de Estado Will Quince é uma das baixas de hoje. Decidiu apresentar a renúncia ao cargo, após o anúncio de demissão, feito na terça-feira, dos ministros da Saúde e das Finanças.."É com grande tristeza e pesar que sinto que não tenho escolha a não ser apresentar minha renúncia", afirmou o, agora demissionário, secretário de Estado para a Infância e Família do governo britânico. Will Quince anunciou a demissão ao afirmar que "não tinha outra opção" depois de ter repetido de "boa fé" à imprensa informações dadas pelo número 10 de Downing Street, o gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson "que se revelaram imprecisas"..Também a assessora do Ministério dos Transportes, Laura Trott, decidiu renunciar ao cargo. Justificou a demissão pela "perda" de confiança no governo de Boris Johnson, que, em apenas dois dias, viu sair vários membros do seu governo, na sequência de mais uma polémica: o caso denominado "pinchergate"..Mas a onda de demissões não para. Também John Glen, o secretário de Estado do Tesouro, renuncia ao cargo. Diz que tem "completa falta de confiança" na liderança de Boris Johnson..Na terça-feira, recorde-se, dois nomes de peso decidiram bater com a porta. Os agora ex-ministros da Saúde britânico, Sajid Javid, e das Finanças, Rishi Sunak, apresentaram a demissão, dizendo já não poder confiar no primeiro-ministro, Boris Johnson..Questionado sobre se o Executivo vai sofrer com a falta de ministros e outros membros que se demitiram nas últimas horas, Johnson respondeu que "há uma riqueza de talentos" na bancada parlamentar, de mais de 300 deputados..Hoje foi a vez de mais dois membros do executivo a apresentarem a demissão, um deles, Will Quince, conta que esteve reunido com Boris Johnson na noite de terça-feira e que este pediu desculpas.."Obrigado por se encontrar comigo ontem à noite e pelas suas sinceras desculpas em relação aos briefings que recebi do nº 10 antes da conferência de imprensa de segunda-feira, que agora sabemos ser imprecisos", escreveu na carta de demissão que divulgou no Twitter..Também nas redes sociais, a assessora do Ministério dos Transportes britânico anunciou a demissão e justificou igualmente a decisão por questões relacionadas com a perda de confiança.."A confiança na política é - e deve ser sempre - da maior importância, mas, infelizmente, nos últimos meses, isso perdeu-se", escreveu Laura Trott numa mensagem publicada no Facebook..Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/lauratrottmp/posts/pfbid02kyFPEESsHdpJw84iJVNVNZe7TxA74r7svQ29T5wPdEMpspmRZ9VDsLDf4oNXsMS4l.Ao todo, nas últimas 24 horas demitiram-se 12 membros do Governo, segundo a estação pública britânica BBC, a maioria deputados que eram conselheiros e assistentes..No entanto, Boris Johnson parece determinado em lutar pela sobrevivência e anunciou rapidamente uma remodelação, com o ministro da Educação, Nadhim Zahawi, a passar para a pasta das Finanças, e Steve Barclay, chefe de gabinete, para a Saúde..Além do debate semanal no parlamento, ao fim da manhã de hoje, Boris Johnson vai ser questionado hoje à tarde pelos presidentes das principais comissões parlamentares, incluindo alguns dos críticos mais vocais dentro do Partido Conservador..A mais recente crise foi causada pela admissão de Johnson de que cometeu um "erro" ao nomear Chris Pincher para o Governo em fevereiro como responsável pela disciplina parlamentar..Pincher demitiu-se na semana passada após ter sido acusado de ter apalpado dois homens..Na terça-feira, depois de alegar o contrário, Downing Street reconheceu que o primeiro-ministro tinha sido informado já em 2019 de antigas acusações contra Pincher, mas que teria esquecido o assunto..Horas depois, no final do dia, os ministros da Saúde, Sajid Javid, e das Finanças, Rishi Sunak, anunciaram a demissão com poucos minutos de intervalo, cansados dos repetidos escândalos que abalam o Governo há meses, seguidos por outros membros menos graduados da equipa governativa..Num texto hoje publicado no jornal Daily Telegraph, o ex-secretário de Estado para o 'Brexit' (processo de saída do Reino Unido da União Europeia) David Frost, que também se demitiu em dezembro, avisou que se Boris Johnson continuar "corre o risco de arrastar o partido e o Governo com ele"..Consideravelmente enfraquecido pelo escândalo das "festas" em Downing Street durante a pandemia de covid-19 e uma série de escândalos sexuais no Partido Conservador, Boris Johnson sobreviveu a uma moção de censura interna no início de junho..O contexto económico também é particularmente delicado, com a inflação no nível mais alto em 40 anos, 9,1% em maio, e uma crescente agitação social..De acordo com uma sondagem do Instituto YouGov, divulgada na noite de terça-feira, 69% dos eleitores britânicos acreditam que Boris Johnson deveria demitir-se..Com Lusa.Notícia atualizada às 12:56